sexta-feira, 31 de maio de 2024

O Significado e os Níveis do Conhecimento Humano

 

O Que é Conhecimento? Qual a Diferença Entre Conhecimento Empírico e Científico? Em Que se Apoia o Conhecimento Teológico? Por Que o Conhecimento Filosófico é Valorativo?


 



Pode-se dizer que conhecimento é o ato ou o efeito de conhecer; ou seja, é ter a ideia – ou noção – de alguma coisa. É o saber, a instrução e a informação. O conhecimento também inclui descrições, hipóteses, conceitos, teorias, princípios e procedimentos. No âmbito da Pedagogia, o conhecimento é um conceito importante, pois ele nos remete para a aplicação ou a lembrança de matérias, conceitos, teorias, princípios e nomes, que foram aprendidos anteriormente. Mas, para falar de conhecimento é necessário falar sobre dados, saberes que podem ser sistematizados ou não, verificáveis ou não, certo ou provável, falível ou infalível, exato ou inexato. Assim, o pode-se dizer que o conhecimento está diretamente ligado ao homem, à sua realidade. Como o conhecimento pretende idealizar o bem-estar do ser humano, logo ele advém das relações do homem com o meio.

O indivíduo procura entender o meio partindo dos pressupostos de interação do homem com os objetivos. É uma forma de explicar os fenômenos das relações, seja, entre sujeito/objeto, homem/razão, homem/desejo ou homem/realidade. A forma de explicar e entender o conhecimento passa por várias vertentes como: conhecimento empírico (vulgar ou senso comum), conhecimento filosófico, conhecimento teológico e conhecimento científico. 

Para Lakatos e Marconi () no caso do conhecimento empírico, este não se distingue do conhecimento científico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto conhecido: o que os diferencia é a forma, o modo ou o método e os instrumentos do conhecer, por isso podemos dizer que a ciência não é o único caminho de acesso ao conhecimento e à verdade. Mais uma vez veremos a importância do método para conferir veracidade a um fato e torná-lo mais real.

 

O Conhecimento Empírico


Segundo BELLO () o conhecimento empírico é obtido ao acaso, após inúmeras tentativas, ou seja, é o conhecimento adquirido através de ações não planejadas. “É aquele adquirido pela própria pessoa na sua relação com o meio ambiente ou com o meio social, obtido por meio da interação contínua na forma de ensaios e tentativas que resultam em erros e em acertos” (CERVO; BERVIAN; SILVA) (). 

Do ponto de vista da utilização de métodos e técnicas científicas, esse tipo de conhecimento – mesmo quando consolidado como convicção, como cultura ou como tradição – é ametódico e assistemático. A característica de assistemático baseia-se na organização particular das experiências próprias do sujeito cognoscente, e não em uma sistematização das ideias, na procura de uma formulação geral que explique os fenômenos observados, aspecto que dificulta a transmissão de pessoa a pessoa, desse modo de conhecer. É valorativo por excelência, pois se fundamenta numa seleção operada com base em estados de ânimo e emoções: como o conhecimento implica uma dualidade de realidades, isto é, de um lado o sujeito cognoscente e, de outro lado, o objeto conhecido e este é possuído, de certa forma, pelo cognoscente, os valores do sujeito impregnam o objeto conhecido. É reflexivo, mas estando limitado pela familiaridade com o objeto, não pode ser reduzido a uma formulação geral. É verificável, visto que está limitado ao âmbito da vida diária e diz respeito ao que se pode perceber no dia-a-dia. É falível e inexato, pois se conforma com a aparência e com o que se ouviu dizer a respeito do objeto, ou seja, não permite formular hipóteses sobre a existência de fenômenos situados além das percepções objetivas (LAKATOS; MARCONI, 2003). 


O Conhecimento Teológico


O conhecimento teológico (ou religioso) se apoia em doutrinas que contém proposições sagradas (valorativas), por terem sido reveladas pelo sobrenatural (inspiracional) e, por esse motivo, tais verdades são consideradas infalíveis e indiscutíveis (exatas). É um conhecimento sistemático do mundo (origem, significado, finalidade e destino) como obra de um criador divino; suas evidências não são verificadas: está sempre implícita uma atitude de fé perante um conhecimento revelado. 

Assim, o conhecimento religioso ou teológico parte do princípio de que as verdades tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por consistirem em revelações da divindade (LAKATOS; MARCONI, 2003). Mas, para BELLO (2004) é o conhecimento revelado pela fé divina ou crença religiosa. Não pode, por sua origem, ser confirmado ou negado. Depende da formação moral e das crenças de cada indivíduo. Ou seja, é um conhecimento ao qual as pessoas chegaram não com o auxílio de sua inteligência, mas mediante a aceitação dos dados da revelação divina. Vale-se de modo especial do argumento de autoridade. São os conhecimentos adquiridos nos livros sagrados e aceitos racionalmente pelas pessoas, depois de terem passado pela crítica histórica mais exigente (LAKATOS; MARCONI, 2004). Dentre os exemplos do conhecimento teológico temos: o acreditar em reencarnação, acreditar que foi curado de uma doença por milagre, acreditar em espíritos.


O Conhecimento Filosófico

 



O conhecimento filosófico é valorativo, pois seu ponto de partida consiste em hipóteses, que não poderão ser submetidas à observação: as hipóteses filosóficas baseiam-se na experiência, portanto, este conhecimento emerge da experiência e não da experimentação, e por este motivo, o conhecimento filosófico é não verificável, já que os enunciados das hipóteses filosóficas, ao contrário do que ocorre no campo da ciência, não podem ser confirmadas nem refutadas (LAKATOS; MARCONI, 2003). 

É fruto do raciocínio e da reflexão humana. É o conhecimento especulativo sobre fenômenos, gerando conceitos subjetivos. Busca dar sentido aos fenômenos gerais do universo, ultrapassando os limites formais da ciência (BELLO, 2004). É racional em virtude de consistir num conjunto de enunciados logicamente correlacionados. Outra característica do conhecimento filosófico é ser sistemático, pois suas hipóteses e enunciados visam a uma representação coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreendê-la em sua totalidade. É também infalível e exato, já que, quer na busca da realidade capaz de abranger todas as outras, quer na definição do instrumento capaz de apreender a realidade, seus postulados, assim como suas hipóteses, não são submetidos ao decisivo teste da observação (experimentação) (LAKATOS; MARCONI, 2004). 

O procedimento científico leva a circunscrever, delimitar, fragmentar e analisar o que se constitui o objeto de pesquisa, atingindo segmentos da realidade, ao passo que a filosofia se encontra sempre à procura do que é mais geral, interessando-se pela formulação de uma concepção unificada e unificante do universo. Para tanto, procura responder às grandes indagações do espírito humano e até busca as leis mais universais que englobem e harmonizem as conclusões da ciência (LAKATOS; MARCONI, 2003). 


O Conhecimento Científico


O conhecimento científico vai além do empírico, assim como o filosófico, é racional, pretendendo ser sistemático e revelar aspectos da realidade. É real porque lida com ocorrências ou fatos, isto é, com toda forma de existência que se manifesta de algum modo. É contingente, pois suas proposições ou hipóteses têm sua veracidade ou falsidade conhecida por meio de experimentação e não apenas pela razão, como ocorre no conhecimento filosófico. É sistemático porque trata de um saber ordenado logicamente, formando um sistema de ideias (teorias) e não conhecimentos dispersos e desconexos. 

Apresenta a característica de verificabilidade: as afirmações ou hipóteses que não podem ser comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência. É um conhecimento falível, em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final e por esse motivo, é aproximadamente exato, ou seja, novas proposições e o desenvolvimento de técnicas podem reformular o acervo de teoria existente. 

O ciclo do conhecimento científico (inclusive o das ciências empíricas) inclui a observação, a produção de teorias para explicar essa observação, o teste dessas teorias e seu aperfeiçoamento. Há nas ciências, um movimento circular, que parte da observação da realidade para a abstração teórica, retorna à realidade, direciona- se novamente à abstração, num fluxo constante entre a experiência e a teoria. 

Como diz Neville (2001) “a investigação nunca começa no início. Não existe problema puro, mas sim algo problemático surgindo de inúmeras convicções relativamente estabelecidas; a investigação encontra-se sempre no meio, corrigindo assunções e inferências prévias, harmonizando hábitos de pensamento ao engajar a realidade com as hipóteses testadas”. Lakatos e Marconi (2003) inferem que apesar da separação metodológica entre os tipos de conhecimentos popular, filosófico, religioso e científico, no processo de apreensão da realidade do objeto, o sujeito cognoscente pode penetrar nas diversas áreas: 

Ao estudar o homem, por exemplo, pode-se tirar uma série de conclusões sobre sua atuação na sociedade, baseada no senso comum ou na experiência cotidiana; 

Pode-se analisá-lo como um ser biológico, verificando, com base na investigação experimental, as relações existentes entre determinados órgãos e suas funções; 

Pode-se questioná-los quanto a sua origem e destino; assim como quanto a sua liberdade; finalmente, 

Pode-se observá-lo como ser criado pela divindade, a sua imagem e semelhança, e meditar sobre o que dele dizem os textos sagrados. 


Por sua vez, essas formas de conhecimento podem coexistir na mesma pessoa. Ou seja, um cientista, voltado ao estudo da física, pode ser um crente praticante de determinada religião, estar filiado a um sistema filosófico e, em muitos aspectos de sua vida cotidiana, agir conforme conhecimentos provenientes do senso comum.  



REFERÊNCIAS



BELLO, José Luiz de Paiva. Metodologia Científica (2004). Disponível em:

<http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/met01.htm> Acesso em: 05 jun. 2010.

CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro A; SILVA, Roberto da. Metodologia científica. 6 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.




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