Qual a Importância dos Cata-Ventos Como Instrumentos de Leitura Marítima? Como Santo Agostinho Foi Influenciado Pelo Imã? Por Que a Bússola Foi um Catalisador na Exploração dos Oceanos?
Independentemente
das direções do nascer e do pôr do Sol, as direções mais perceptíveis capazes
de ajudar um marinheiro eram os ventos. Já no século I a. C. os Chineses
escreviam sobre “estações dos ventos”, organizando classificações complicadas
dos 24 ventos e utilizando papagaios de papel para testar os diversos comportamentos.
Daí, não
surpreende que tenham feito cata-ventos que foram os pioneiros de todos os
instrumentos de leitura, que mais tarde serviram às ciências sociais. Os Gregos
estavam tão habituados a usar os nomes dos ventos para indicar as direções de
onde vinham que, para eles, a palavra vento se tornou sinônimo de direção. Os
ventos eram objeto de grande interesse e a fonte orientadora da doutrina foi
Lúcio Sêneca, preceptor do jovem Nero.
Místicos
cristãos diziam que os ventos moviam o firmamento de leste para oeste e, de
qualquer modo, mantinham em ordem as outras forças do planeta. Sem o movimento
dos ventos, os fogos do Sul, as águas do Oeste e as sombras escuras do Norte
poderiam cobrir a Terra.
Teorias
complicadas atribuíam aos ventos um papel principal na composição dos climas,
no movimento dos oceanos e na atividade sísmica. Bóreas do Norte soprava frio e
Austro do Sul soprava quente. Os autores de mapas e cartas marítimas da Idade
Média adaptaram para os ventos os nomes clássicos. Marinheiros gregos batizaram
as 4 principais direções do vento e assinalaram 4 pontos intermediários.
O mundo
árabe teve uma boa vantagem na procura da direção absoluta, em virtude de o
Islã exigir que suas mesquitas ficassem voltadas para Meca. Só descobrindo
orientações geográficas poderiam ter a certeza de que elas estavam orientadas
para um lugar distante.
Mesmo
durante o tempo que a Europa cristã esteve aprisionada pela sua geografia
teológica, cientistas muçulmanos com tendências matemáticas utilizavam a
astrologia como uma proto-astronomia, a fim de aperfeiçoarem os cálculos de
Ptolomeu no tocante a Latitude e Longitude.
Depois do
advento da agulha magnética indicadora de direção (no século XII), a rosa dos
ventos foi gradualmente desalojada pela rosa da bússola magnética, com a sua
definição mais nítida de 16 ou 32 pontos direcionais. Foi necessário algum tempo para combinar a velha bússola
com a nova.
A bússola
magnética foi um catalisador da exploração, um novo engodo para o desconhecido.
Os marinheiros, abandonando seus esboços de mapas podiam levar agora
verdadeiros mapas que os orientariam para todo o Mundo. Os polos magnéticos –
traço característico do planeta – não são o mesmo que os polos geográficos à
volta das quais a Terra gira.
O motivo
da localização dos polos magnéticos continua a ser um grande mistério e o campo
magnético da Terra – conforme historiadores – inverteu várias vezes sua
polaridade no passado geológico. Mesmo assim, a bússola forneceu um absoluto
universal comparável ao que o relógio mecânico e a hora uniforme forneceram ao
tempo.
Essas 2
descobertas ocorreram na Europa nos mesmos séculos e, devido à natureza do
nosso planeta, a marcação do tempo e do espaço eram inseparáveis. Quando alguém
se afastava grande distância da sua casa para oceanos não cartografados, não
podia saber precisamente onde se encontravam, a não ser que
tivesse uma forma de calcular quando estava.
Situar-se
em todo o planeta equivalia encontrar seu lugar na grelha de latitude e
longitude que Ptolomeu começou, antes dos mil anos da geografia cristã da Idade
Média. Para a nova era de explorações era necessária a bússola magnética, pois
a arte de navegar por aparelhos só apareceu 2 séculos após Colombo. Entretanto,
a bússola dava confiança aos marinheiros de conseguirem encontrar o caminho de
volta e, além disso, uma bússola poderia ser feita por qualquer um.
A agulha
magnetizada para navegação ocorreu na China no ano 1000 a. C., mas a 1ª
referência a ela só apareceu nos escritos 2 séculos depois. Ignora-se como
chegou à Europa, quando, como e por quem foi inventada, mas ao contrário das
bússolas utilizadas pelos marinheiros, as que eram usadas pelos astrônomos
europeus apontavam para o Sul.
As
agulhas chinesas foram marcadas assim durante séculos e talvez seja um indício
de que elas foram transmitidas da China para o Ocidente e, mais tarde, foi
adaptada pelos marinheiros europeus que a apontaram para o Norte. Ao observarem
os extraordinários poderes da pedra imã as pessoas associavam-na às forças
obscuras e, na China, por exemplo, os poderes do imã eram usados na “arte de
adivinhar a sorte”.
Santo
Agostinho espantou-se ao constatar as características magnéticas dessa pedra
que atraía o ferro, dando-lhe a capacidade de atrair outro ferro e mantê-los
unidos. A capacidade de a agulha magnetizada encontrar o Norte era considerada
“magia negra” por muitos marinheiros e, durante décadas, muitos capitães
consultavam-na em segredo.
Tudo isso
torna difícil descobrir a história e origem
da bússola na Europa, mas ajuda a explicar a origem da “bitácula” (caixa para
guardar bússolas). Durante os séculos em que foram considerados instrumentos
ocultos, o piloto conservava-a fora das vistas públicas e colocava-a dentro
dessas pequenas caixas.
Depois de
a bússola perder o sabor oculto e se tornar um instrumento quotidiano do
marinheiro, veio para a luz, embora no tempo de Colombo muitos pilotos que
utilizassem a bússola se arriscavam a ser acusados de “comércio com Satanás”. Depois,
ela se tornou tão indispensável que o próprio comandante levava consigo agulhas
magnetizadas. Fernão de Magalhães levou 35 delas para substituir a que se
encontrava sob a carta circular da bússola, se essa perdesse o Norte.
Assim
como o relógio libertou a humanidade da necessidade de medir o tempo pelo Sol e
pelas estrelas, a bússola orientou a humanidade no espaço e alargou as épocas e
as estações de viajar por mar. Em dias cobertos, sem bússola no Mediterrâneo
até marinheiros experientes se arriscavam a perder-se e, por essa razão, o
tráfego marítimo entre pontos distantes no Mediterrâneo ainda era interrompido
no Inverno.
No século
XIV a bússola fortaleceu o tráfego marítimo no Mediterrâneo, pois já não havia
a necessidade de ficar confinado ao porto por causa de tempestades e era
possível fazer duas viagens. Além disso, os ventos do Mediterrâneo eram tais
que havia vantagens em navegar durantes os meses enevoados.
Em
contrapartida, no Oceano Índico os ventos eram tão regulares – visto mudarem
com as estações – que faziam as vezes de uma espécie de bússola. Os pilotos se
orientavam pelos próprios ventos. Por razões diferentes, os marinheiros do Mar
do Norte e do Báltico demoraram mais tempo a sentir a necessidade da bússola
magnética, pois sua navegação fazia-se em águas baixas e os marinheiros
encontravam suas rotas tateando o caminho ao longo do fundo. No noroeste da
Europa a imensa extensão da placa continental originava marés fortes, de grande
alcance e, conhecer a profundidade, era uma questão de sobrevivência.
Depois do
aparecimento da bússola, os pilotos das costas norte-europeias se sentiram mais
confiantes, podendo combinar o novo dispositivo com sua antiga sonda – tão
segura, de chumbo e cabo. Os livros ingleses de pilotagem davam ênfase às
marés, ás profundidades e aos leitos, diferentemente dos italianos que punham a
tônica na distância.
Mas,
foram os marinheiros mediterrâneos que melhor acolheram a bússola,
acrescentando nova precisão às antigas técnicas de “cálculo a olho nu” e desde
então ela se tornou o principal, se não o único, instrumento essencial à
navegação.
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