As diferentes “escolas” do
pensamento estratégico serão apresentada a seguir baseadas na interpretação de
Henry Mintzberg, Bruce Ahlstrand e Joseph Lampel([1]).
Esses autores discutiram as várias abordagens e descreveram a história, as
origens, os conceitos básicos, aplicações, as vantagens, desvantagens e
situações nas quais cada uma das dez (10) abordagens do pensamento estratégico
pode ser a mais apropriada:
1) Escola
do Design: É uma das escolas mais influentes na formulação das
estratégias empresariais, a qual é baseada nos trabalhos de Chandler ([2])
e Selznick ([3]).
Ela apresenta a elaboração da estratégia como um processo de concepção, pela
análise e combinação do ambiente interno com o ambiente externo. A estratégia
da organização é desenhada (design) em
busca do melhor ajuste entre o ambiente interno e o externo; ou seja, entre as
capacidades e competências da empresa e as oportunidades e ameaças presentes no
ambiente de negócios.
A Matriz SWOT é a principal
ferramenta dessa escola. Além disso, outros dois (2) fatores importantes para a
construção das estratégias são os valores gerenciais , as crenças e
preferências daqueles que lideram a organização e a responsabilidade social – especificamente
a ética da sociedade, na qual a empresa está inserida. As principais críticas à
essa escola são:
·
A avaliação de pontos fortes e fracos passa
longe do aprendizado, pois a formação da estratégia é um processo de concepção,
em vez de aprendizado.
·
A centralização da responsabilidade do processo
na alta direção reforça o personalismo e isso pode diminuir a participação das
diferentes áreas da empresa.
·
A separação entre formulação e implementação
nega a complexidade do ambiente de negócios e simplifica o processo de criação
da estratégia.
2) Escola
do Planejamento: Essa escola preconiza a formação da estratégia como um
processo formal que segue um conjunto específico de etapas, as quais devem ser
observadas rigorosamente. Esses passos partem da análise da situação atual da
empresa até o desenvolvimento e exploração de diferentes cenários alternativos.
O objetivo é a geração de planos que guiem a empresa até seus objetivos.
Existem muitos modelos de
planejamento estratégico que seguem as prescrições da Escola do Planejamento.
As principais etapas que se encontram na maioria desses modelos são:
Determinação de Objetivos e Metas (elaboração e quantificação dos resultados
que a empresa quer alcançar nas suas diversas áreas) e, as duas etapas
seguintes, são semelhantes ao proposto pela Escola de Design, as quais são
explicitadas pela Análise SWOT.
Uma crítica a essa escola é que
os planos elaborados apresentam pouca conexão com a realidade, promovendo a
visão de que planejamento e execução não estão relacionados. Mintzberg aponta o
seguinte problema nessa escola: a falácia de que a análise pode produzir a
síntese; ou seja, de um processo analítico formal pode-se extrair uma
recomendação que sintetize um curso de ação a ser seguido e prever
descontinuidades.
3) Escola
do Posicionamento: Essa escola é fortemente influenciada pelos
trabalhos de Michel Porter e, a elaboração de sua estratégia, é fruto de uma
análise da organização considerando-se o contexto da indústria na qual ela se
encontra. A Escola do Posicionamento se tornou uma das escolas de planejamento
mais influentes do mundo, quando Porter publicou “Estratégias Competitivas”. A
premissa dessa escola é a escolha de uma posição no mercado e, ao contrário das
escolas de Design e do Planejamento, que não colocam limites à geração de
estratégias numa dada situação, essa argumenta que poucas estratégias são
desejáveis em qualquer indústria onde a organização atue.
A organização deve escolher uma
estratégia genérica de competição – Diferenciação
em Produtos, Liderança nos Custos
ou de Enfoque – e defender sua
posição no mercado contra seus concorrentes. A Escola do Posicionamento não
prescreve uma estratégia específica para cada empresa e, ao colocar o foco no
estudo da estrutura da indústria, ela busca identificar qual é a melhor
estratégia, considerando-se as condições específicas da indústria, e não da
organização.
Segundo Mintzberg, as principais
críticas à essa escola estão relacionadas ao foco, contexto, processos e nas
estratégias em si. O foco é estreito, sendo orientado para o econômico em
oposição ao social e ao político. O contexto é direcionado para grandes
empresas tradicionais. O processo com excesso de formalização pode impedir não
só o aprendizado e a criatividade, mas também o envolvimento emocional.
4) Escola
do Empreendedorismo: Essa abordagem trata a elaboração da estratégia
como um processo visionário, o qual surge na mente do líder que é considerado
uma pessoa carismática e empreendedora. Essa escola propõe que a estratégia
seja elaborada a partir do julgamento, sabedoria, experiências e da intuição do
líder.
Trata-se da estratégia como
perspectiva, associada com o senso de direção, imagem e foco presentes na
construção da visão de futuro da empresa. Logo, o conceito central dessa escola
é a visão; ou seja, uma representação mental da estratégia, criada e comunicada
pelo líder. Daí o papel do empreendedor no desenvolvimento dessa escola remonta
aos trabalhos de Schumpeter ([4])
e sua noção de “destruição criativa”, a
qual é o motor do Capitalismo ao mesmo tempo que o empreendedor seria o guia
desse motor. Na interpretação de Mintzberg, as principais características do
processo de geração das estratégias na organização empreendedora seriam:
·
A elaboração da estratégia é caracterizada pela
busca incessante de oportunidades.
·
O poder está centralizado nas mãos do executivo
da organização.
·
A elaboração da estratégia é marcada por saltos
para a frente num terreno dominado por incertezas.
·
O crescimento é a principal preocupação da
organização.
As principais críticas a essa
escola são a dependência excessiva da figura do líder visionário e as
limitações que isso pode gerar para o processo de geração de estratégias. O
culto à personalidade gera uma sobrecarga com relação ao desempenho do líder e,
uma questão que deve ser tratada com rigor, é a falta de embasamento científico
da associação do sucesso empresarial à personalidade empreendedora do líder.
5) Escola
Cognitiva: Essa escola entende a formulação da estratégia como um
processo mental e analisa como as pessoas percebem padrões e informações.
Usando a Psicologia Cognitiva, busca-se entender os processos mentais dos
gerentes. Ela surgiu em 1990, inspirada na teoria comportamentalista de Simon ([5])
e estuda como as crenças produzidas pelo senso comum são contempladas no
pensamento estratégico, associando processos individuais aos coletivos, do
indivíduo à organização.
Nota-se que essa escola faz uma
ponte entre as escolas que possuem alto grau de objetividade; ou seja, as
escolas do Design, Planejamento, Empreendedorismo e as escolas mais subjetivas.
A principal crítica à essa escola é que ela é caracterizada mais por seu
potencial do que por sua contribuição. Apesar da importância da cognição para o
processo de formação da estratégia, a Psicologia Cognitiva ainda precisa
resolver como se formam os conceitos na mente de um estrategista.
6) Escola do Aprendizado:
Essa escola trata a estratégia como um processo emergente, no qual os gerentes
prestam atenção ao que funciona ou não ao longo do tempo e incorporam esse
aprendizado ao seu plano de ação gerencial. A Escola do Aprendizado desafiou
todas as outras, pois ela é um modelo de formação estratégica desenvolvida pela
aprendizagem e define que a estratégia pode ser encontrada e produzida por toda
a organização. Uma empresa que aprende buscar transferir internamente
conhecimento, despende energia olhando para fora de seus limites em busca do
conhecimento. Por outro lado, as críticas a essa escola estão relacionadas com
os seguintes problemas:
·
Inexistência de Estratégias: O
aprendizado é importante, mas existem situações em que o aprendizado demorado
pode agravar as crises na organização.
·
Estratégia Perdida: A descontinuidade do
ambiente demanda um gerenciamento de novas iniciativas que gere aprendizagem
enquanto se prossegue com as estratégias que funcionam.
·
Estratégia Errada: A aprendizagem tende a
incluir pequenas tentativas que podem estimular o surgimento de estratégias indesejáveis.
A organização que aprende deve se preocupar com o custo e a necessidade de
aprendizagem.
7) Escola do Poder: Para
essa escola a formulação da estratégia é um processo de negociação entre
indivíduos, grupos de interesse (stakeholders)
e coalizões. Sendo assim, enfatiza-se a utilização do poder, da influência e da
política para negociar estratégias ao alcance de interesses particulares. A
concepção do poder como eixo central no desenvolvimento das estratégias pode
ser abordada em dois (2) ramos dessa escola:
·
Poder Micro: Quando consideramos o lado
político dentro da organização e sua influência da administração das
organizações e, nesse caso, o foco recai nos conflitos entre os stakeholders internos na organização.
·
Poder Macro: Onde se exploram as relações
da organização com o ambiente de negócios, a utilização do poder e da política
para cooperar ou conflitar com os stakeholders
externos da organização.
Um exemplo para o sentido “micro”
refere-se às negociações dos departamentos de uma empresa para o lançamento de
novos produtos ou a venda de uma unidade de negócios. Um exemplo para o sentido
“macro” relaciona-se às negociações e pressões de uma empresa numa situação
pré-falimentar por empréstimos subvencionados pelo governo. Mas, a principal
crítica à essa escola refere-se ao exagero de suas colocações, pois a formação
da estratégia envolve poder, mas não apenas isso. Falta atenção nos padrões de
se formam, mesmo em situações de conflito.
8) Escola Cultural: Essa
escola entende a formação de estratégia como um processo enraizado na força
social da cultura, envolvendo vários grupos e setores dentro da empresa. É o
contraponto da Escola de Poder, onde o interesse é individual e o sistema é
fragmentador. Na escola Cultural o interesse é comum e o sistema é integrador.
As principais premissas dessa escola são:
·
O processo de formulação da estratégia é de
interação social, baseado nas crenças e valores partilhados pelos colaboradores
da empresa.
·
As pessoas adquirem os valores por meio da
aculturação ou socialização, que é predominantemente não-verbal, mas que pode
ser reforçada com uma doutrinação formal.
·
Os colaboradores podem descrever apenas
parcialmente as crenças e valores que caracterizam sua organização, enquanto as
origens e explicações relacionadas a essas crenças e valores permanecem
obscuras.
A principal crítica a essa escola
é que ela está centrada na possibilidade de estagnação da empresa, pois essa
escola pode desencorajar mudanças necessárias. A Escola Cultural está focada em
explicar as estratégias e não em recomendar o que se pode fazer, ou qual curso
de ação deve ser seguido.
9) Escola Ambiental: A
formação da estratégia é um processo reativo; ou seja, uma resposta aos
desafios impostos pelo ambiente de negócios no qual a empresa está inserida.
Logo, o foco no ambiente é fundamental porque as estratégias são reativas,
focadas nas respostas às mudanças no ambiente. Nessa escola, quanto mais
estável o ambiente externo, mais formalizada a estrutura interna. Já a dinâmica
e a complexidade do ambiente levam a uma série de contingências que precisam
ser monitoradas dinamicamente.
As principais críticas a essa
escola se referem a uma visão restrita de opção estratégica, diante do fator
ambiental. Nessa escola, as organizações devem considerar não a existência de opções,
mas as condições que aumentam (ou restringem) a amplitude das opções. Além
disso, existe a necessidade de o ambiente ser sondado com precisão para que se
tenha uma rica descrição de como ele se apresenta.
10) Escola da Configuração:
Essa escola oferece a possibilidade de integração das ideias apresentadas das
outras escolas estudadas. A formação da estratégia é um processo de
transformação da organização, descrevendo a empresa e o contexto que a cerca
como configurações. Essa escola determina que, ao estabelecer o equilíbrio numa
fase de existência da empresa, é chegado o momento de criar uma estratégia para
saltar para um estado superior.
A principal crítica a essa escola
foi feita por Donaldson ([6]),
quando ressaltou que as configurações representam uma abordagem falha à
teorização, pois simplificam demasiadamente o entendimento das organizações e
não consideram as muitas singularidades apresentadas na complexa realidade do
mundo organizacional.
Ao analisar as principais escolas
existentes no campo de conhecimento da estratégia, pode-se constatar as várias
opiniões sobre como se configurará a evolução do pensamento estratégico nesse
milênio e, além disso, podemos perceber claramente as várias maneiras de se
construir as estratégias que guiarão as organizações para o futuro.
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