A Criança Possui Desejos e Necessidades? Qual é a
Influência das Crianças no Consumo Familiar? Como as Empresas Vêm Posicionando
Suas Marcas Para Esse Público-Alvo?
Nas últimas décadas as estruturas familiares
vêm sofrendo enormes mutações, onde os casais se tornaram menos estáveis e o
exercício da autoridade vem tomando formas bem diferentes daquelas conhecidas
pelos nossos pais e avós. As relações entre pais e filhos tem se modificado e
hoje existe certa tendência para que essas relações com a criança sejam
marcadas pela negociação.
Dessa forma, a criança ganhou o direito de
ser ouvida pelos adultos que lhes concederam maior liberdade para – por exemplo
– seus momentos de lazer. Há alguns anos temos observado um expressivo
crescimento das despesas que os adultos disponibilizam para seus filhos e, além
disso, os modelos de consumo das sociedades ocidentais vêm privilegiando a
dimensão "prazer" – incluindo-se aí o prazer de participar do consumo
dos seus próprios filhos.
Graças aos inúmeros estudos psicológicos
sobre o tema, nos últimos tempos o conhecimento sobre a infância se multiplicou
e esse saber foi difundido entre o público, dando à criança a legitimidade de
reivindicar e ser reconhecida como ela é. Ou seja, como um indivíduo com
necessidades e desejos.
Ator de primeira classe no cenário econômico
brasileiro, a criança deve ser considerada cada vez mais responsável nos
mecanismos de consumo, uma vez que muitas empresas já consideram positivo esse
público-alvo. Pesquisas demonstram a importância do consumidor de 8 a 12 anos
no cenário econômico brasileiro, onde:
·
Quase 54% desse
público possuem um rádio
·
47% um walkman
·
34% um aparelho de
som
·
25% possuem sua
própria TV.
Além disso, quase 40% do consumo das famílias
brasileiras ocorre em função da influência das crianças, as quais descobrem 50%
dos produtos á sua volta.
Estudos realizados com pais de crianças entre
7 e 15 anos constatam a significativa influência das crianças nas escolhas
familiares, pois constatou-se que 71% dos pais declararam que seus primogênitos
exercem "grande influência" sobre as escolhas de toda a família no
domínio do lazer, 49% no de produtos alimentares, 46% no de férias e 41% no de
informática.
Em função do seu peso econômico as crianças
hoje se constituem uma aposta estratégica para as marcas, embora muitas
empresas venham encontrando dificuldades para se comunicar com esse
público-alvo.
Do ponto de vista das marcas, as empresas
devem procurar a melhor maneira de estabelecer um relacionamento satisfatório e
durável com seus jovens consumidores, uma vez que esses mesmos jovens comprarão
e consumirão um dia seus próprios produtos e serviços.
Os adultos – responsáveis pelas marcas – têm
como objetivo principal atrair essas crianças e conquistar sua fidelidade,
embora o conhecimento desses jovens consumidores não seja coisa fácil. Dessa
forma, as crianças acabam se constituindo numa população particularmente
difícil para os estudos de Marketing.
Os analistas mercadológicos reconhecem a complexidade
do mundo infantil, a começar quando se tenta entendê-lo através de entrevistas
– por exemplo – pois ao interrogá-las, é bastante comum provocar reações e
respostas inúteis e falsas. Piaget ([i]) evoca o tipo de reações e de respostas
que podem ser observadas em entrevistas com as crianças:
·
O
"desinteresse" – se a questão aborrece a criança.
·
A
"fabulação" – quando a criança inventa uma história na qual nem ela
mesma acredita.
·
A "opinião
sugerida" – quando a criança deseja agradar o entrevistador ou quando a
pergunta comporta ela mesma elementos de resposta sugerida.
·
A "opinião
desencadeada" – provocada pelo entrevistador caso a pergunta obrigue a
criança a refletir e se questionar com novas perguntas que, para ela, não lhe
seriam colocadas fora da entrevista, mesmo que a reflexão da criança permaneça
original.
Além do mais, os questionários já aprovados com os adultos são ineficazes com os jovens, cujo modo de pensar é dominado pelo imaginário e pelo emocional e cujos conhecimentos verbais – bastante limitados, no caso brasileiro – impedem as abordagens clássicas.
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([i]) "La
representation Du Monde Chez L'enfant. Presses Universitaires de France, 1947.
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