Como Ocorreu a Guerra de
Secessão nos EUA? Quais Eram as Condições Econômicas dos Estados
do Norte e do Sul? O Que Foi a Idade do Ouro Americana?
Em 1860 a
burguesia dos Estados do Norte no atual território dos EUA tinha consciência de
que o domínio de dois litorais (Atlântico e Pacífico), a existência de um
mercado interno, o aperfeiçoamento dos meios de transporte, a entrada de mão de
obra especializada e de capitais europeus possibilitariam as condições
necessárias para o desenvolvimento econômico e maior atuação na política
internacional.
Mas, um dos
problemas era a falta de integração, pois os Estados do Sul e do Norte tinham
maneiras de pensar diferentes. No Norte havia lavoura em pequena escala, o
transporte por navios, as manufaturas que cresciam, tudo sendo produzido pelo
trabalho do branco. No Sul havia a monocultura com o trabalho do negro, as
classes proprietárias sulistas eram partidárias do livre-cambismo e opondo-se
ao protecionismo alfandegário.
Para os
sulistas era questão fundamental vender – no exterior – os produtos agrícolas e
adquirir de clientes ingleses os produtos fabris que necessitassem; isto, sem
esquecer que seriam obrigados a comprar produtos nacionais a preços altos e de
qualidade inferior aos produzidos no exterior.
Em
contraposição, a burguesia nortista considerava que suas nascentes indústrias
só teriam condições de se desenvolver mediante tarifas protecionistas que
afastassem a concorrência europeia e garantissem o consumo de um mercado
interno em plena expansão.
Além disso,
os fabricantes e comerciantes nortistas estavam interessados em estreitar as
relações com o Oeste, vendendo-lhes artigos industriais e comprando produtos
agrícolas. Por isso, eles apoiavam as reivindicações do Oeste no sentido de que
a União deveria promover a construção de ferrovias e canais, ligando o Oeste ao
Leste e isso era contestado pelos proprietários sulistas.
As
divergências eram complicadas pela questão da escravidão, que era considerada
de forma diferente entre nortistas e sulistas. Para a burguesia do Norte a
abolição da escravidão era interessante porque representava a ampliação do
mercado consumidor interno. A campanha antiescravista ganhou impulso não apenas
pelo fato de as tendências liberais se terem avivado ao Norte, mas também pelo
desenvolvimento dos movimentos humanitários ligados às teorias sociais e aos
“socialistas românticos”.
Portanto, foi
nesse ambiente conflitante que surgiu o novo Partido Republicano (1854), agrupando
democratas e federalistas do Norte, do Oeste e até do Sul, nacionalistas e
protecionistas, apresentando Abraham Lincoln como candidato às eleições de
1860. A vitória de Lincoln levou a Carolina do Sul a proclamar a dissolução da
União entre esse Estado e os demais, apoiada por mais dez Estados que formaram
os Estados Confederados da América.
Sendo assim,
o ataque confederado ao Forte Sumter deu início às operações militares da “Guerra
de Secessão”, a qual foi considerada a 1ª das grandes guerras modernas,
não só pelas enormes perdas humanas (620 mil) como também porque foi uma
“guerra total” – devido à utilização de todos os recursos políticos, militares,
econômicos e psicológicos empregados contra os exércitos e as populações civis.
A União
compreendia 23 Estados com cerca de 28 milhões de habitantes e, os
Confederados, tinham 11 Estados com uma população de 9 milhões dos quais 3,5
milhões eram escravos. O sistema ferroviário da União era mais extenso e de
melhor qualidade que o dos Confederados, os quais dependiam de armas e
medicamentos importados. Além do mais, os estaleiros do Norte reforçaram sua
esquadra cujos navios afundaram os dos Confederados e bloquearam os portos
sulistas.
Apesar das
várias derrotas da União – devido à incapacidade de seus generais – as
desvantagens do Sul foram-se evidenciando e, desde a batalha de Gettysburg, a
União começou a avançar e levou o Sul a capitular após a tomada de sua capital
(Richmond) em 1865. No decorrer do conflito, Lincoln aboliu a escravatura
a fim de enfraquecer seus inimigos.
Com o fim da
guerra surgiu o problema da reconstrução política, socioeconômica e financeira
que foi enfrentado também pelos dois presidentes seguintes. Os Estados sulistas
foram reintegrados à União, tendo que abolir a escravidão e o direito de voto
aos negros. Economicamente, o Sul foi mais afetado pela guerra do que o Norte,
pois muitas plantações foram arrasadas e outras confiscadas.
Dessa forma,
o Sul foi obrigado a vender os produtos agrícolas aos capitalistas do Norte, os
quais se valeram da condição de vencedores para transferir capitais e
indústrias para os Estados sulistas. Em contraposição, o desenvolvimento
econômico do Norte e do Oeste foi considerável, pois mesmo durante o conflito
as necessidades bélicas estimularam a industrialização o que possibilitou a
formação dos primeiros trustes – ligados aos Rockfeller’s,
aos Carnegie’s e aos Morgan’s.
A
Idade do Ouro
Após a Guerra
de Secessão os EUA conheceram uma crescente prosperidade econômica, pois a
produção foi estimulada pelo desenvolvimento das indústrias nortistas, pelo
estabelecimento de tarifas protecionistas, pelo afluxo de mão de obra imigrante
e também pelo surgimento de uma geração de ousados homens de negócios.
A ocupação de
terras do Centro-Oeste acarretou uma extraordinária expansão da agricultura,
facilitada pela conquista de terras aos indígenas e pela construção de
ferrovias. Mas, foi a indústria que apresentou os mais elevados índices de
desenvolvimento sobressaindo-se a produção de aço, onde os EUA atingiram o 1º
lugar mundial.
A
multiplicação de eventos, a abundância de matérias-primas, o aperfeiçoamento
das comunicações, dos transportes e a criação de um sistema bancário nacional
favoreceram a industrialização – rapidamente concentrada em impérios econômicos
estruturados em trustes e pools.
A
América Espanhola no Século XIX
Apesar dos
esforços de Simón Bolívar em criar uma Confederação de Estados Americanos, o
projeto que foi a primeira manifestação de Pan-Americanismo fracassou. Para
isso contribuíram a oposição do Brasil monárquico (contrário a regimes
republicanos), a resistência dos EUA (temiam o contágio de ideias
abolicionistas) e a resistência da Inglaterra à formação de uma América forte e
unida, que poderia criar obstáculos à expansão econômica inglesa.
A
independência da América Espanhola fez-se ao preço de sua unidade, pois em
1831, a Grã-Colômbia fragmentou-se em três repúblicas – Venezuela, Colômbia e
Equador – e, sete anos depois, as Províncias Unidas de Centro-América se dissolveram
e deram origem às repúblicas da Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua e
Costa Rica (1838).
Pela ação dos
EUA, em 1903 o Panamá separou-se da Colômbia, sem que nos esqueçamos de que o
antigo vice-reino do Prata dividiu-se em três repúblicas (Argentina, Paraguai e
Uruguai) ao passo que o Peru, a Bolívia e o Chile se tornaram independentes da
Espanha e entre si.
Essas guerras
haviam desorganizado a economia e consequentemente as minas foram abandonadas,
os rebanhos dispersados, a agricultura decaiu – pela falta de segurança e pelas
colheitas destruídas – e, não é de se espantar, que os centros urbanos vissem
afluir uma multidão de pobres e esfarrapados, buscando alguma ocupação.
A imaturidade
na manipulação das instituições políticas levou as novas repúblicas a
sangrentas guerras civis e o México – por exemplo – passou a ter um
Presidente por ano (durante 36 anos consecutivos à queda do seu primeiro
caudilho). Na Venezuela verificaram-se 52 revoltas em menos de 100 anos e a
Bolívia passou a ser o teatro de 60 revoltas militares, mudando 10n vezes sua
Constituição, matando ou deixando morrer 6 dos seus Presidentes. Fora o
Paraguai, que não conseguia se livrar das ditaduras.
Um dos
aspectos desses conflitos foi o choque entre a capital e as províncias, entre
as cidades e o campo, entre comerciante e produtor; ou seja, entre os
centralistas e os federalistas. Rompidos os vínculos com a metrópole, o poder
tendeu a deslocar-se para a classe dos senhores da terra. Daí, a estruturação
dos novos Estados foi condicionada por dois fatores: _ a inexistência de
interdependência entre os senhores da terra.
Desses
conflitos surgiu a controvertida figura do “caudilho”, com
forte base rural, índole militarista, o qual arrebatava o poder assegurando a
unidade nacional e conduzindo à proliferação de ditaduras. O caudilho lutava
pelo poder político central e, muitos contingentes recrutados para a guerra de
emancipação, eram constituídos de seguidores de um determinado caudilho.
A carência de
capitais – por causa das oscilações políticas e da corrupção administrativa –
levou os governantes a contrair empréstimos na Inglaterra que conduziram à
crescente dependência econômica aos países desenvolvidos, os quais lhes vendiam
produtos industrializados, forneciam técnicos e empréstimos, adquiriam
matérias-primas e produtos agrícolas, controlavam as alfândegas estendiam sua
influência além do campo econômico.
Sendo assim,
esse tipo de relacionamento econômico serve para explicar a existência do
subdesenvolvimento como um tipo de fenômeno comum aos países ibero-americanos.
A presença inglesa assumia a forma de organização de um comércio importador.
Surgiram as casas importadoras que difundiam as manufaturas europeias, que
modificaram hábitos de consumo e acarretou a desagregação das atividades
artesanais locais.
A Espanha não
havia se conformado com a perda de suas antigas colônias e exigiu o pagamento
de indenização ao Peru; mas este, aliado ao Chile e à Bolívia, resistiu às
pretensões espanholas em uma guerra que se estendeu de 1866 a 1868.
É certo que
os criollos ascenderam à condição de aristocracia dirigente
e que a expropriação das terras indígena foram incrementadas, mas persistiram
as seguintes características: _ as grandes propriedades exploradas por métodos
arcaicos; a estrutura social, baseada na posse da terra; as relações de
dependência pessoal dos camponeses com relação aos proprietários; a ausência de
classes médias rurais; a concentração da propriedade nas mãos de uma minoria; o
predomínio da agricultura como atividade econômica e cuja produção destinava-se
ao mercado externo.
Daí, no fim
do século assistiu-se a um surto da imigração espanhola e portuguesa e, o fato
novo, consistiu na chegada maciça de alemães e de italianos. A maioria dos
imigrantes acabou se fixando nos centros urbanos, incrementando a urbanização e
contribuindo para o desenvolvimento de classes médias (pequenos comerciantes,
burocratas) e do proletariado (ferroviários, portuários, etc.) de diversos
países, como a Argentina.
Esse quadro
foi completado com as guerras entre os países latino-americanos, destacando-se
a Guerra do Paraguai e a Guerra do Pacífico, além de inúmeros atritos nas
fronteiras porque os limites entre os Estados americanos eram imprecisos.
A Guerra do
Paraguai (1864/1870) opôs o Paraguai ao Brasil, Argentina e Uruguai, tendo suas
origens no interesse do Brasil em manter um equilíbrio platino, possível com o
fracionamento do antigo vice-reino do Prata, mas rompido quando Francisco
Solano Lopes procurou converter o Paraguai na Prússia Platina.
Já a Guerra
do Pacífico (1879/1833) levou o Chile a enfrentar a Bolívia (aliada ao Peru) em
um conflito pela disputa de ricas regiões em prata, fertilizantes e nitratos;
os territórios eram bolivianos e explorados por mineiros chilenos, sendo
combinado que se pagaria à Bolívia as tarifas de exportações e esta se obrigava
a dividir com o Chile.
No entanto, o governo boliviano não respeitou o acordo e acabou confiscando os bens de empresas chilenas, assim como os peruanos haviam feito com as companhias salitreiras chilenas de Tarapacá. O fracasso das soluções pacíficas propostas pelo Chile levou este a iniciar as hostilidades, terminadas com a vitória chilena.
Nenhum comentário :
Postar um comentário