quarta-feira, 27 de março de 2024

A Guerra de Secessão e a América Espanhola no Século XIX

 

Como Ocorreu a Guerra de Secessão nos EUA? Quais Eram as Condições Econômicas dos Estados do Norte e do Sul? O Que Foi a Idade do Ouro Americana?

 



 

Em 1860 a burguesia dos Estados do Norte no atual território dos EUA tinha consciência de que o domínio de dois litorais (Atlântico e Pacífico), a existência de um mercado interno, o aperfeiçoamento dos meios de transporte, a entrada de mão de obra especializada e de capitais europeus possibilitariam as condições necessárias para o desenvolvimento econômico e maior atuação na política internacional.

Mas, um dos problemas era a falta de integração, pois os Estados do Sul e do Norte tinham maneiras de pensar diferentes. No Norte havia lavoura em pequena escala, o transporte por navios, as manufaturas que cresciam, tudo sendo produzido pelo trabalho do branco. No Sul havia a monocultura com o trabalho do negro, as classes proprietárias sulistas eram partidárias do livre-cambismo e opondo-se ao protecionismo alfandegário.

Para os sulistas era questão fundamental vender – no exterior – os produtos agrícolas e adquirir de clientes ingleses os produtos fabris que necessitassem; isto, sem esquecer que seriam obrigados a comprar produtos nacionais a preços altos e de qualidade inferior aos produzidos no exterior.

Em contraposição, a burguesia nortista considerava que suas nascentes indústrias só teriam condições de se desenvolver mediante tarifas protecionistas que afastassem a concorrência europeia e garantissem o consumo de um mercado interno em plena expansão.

Além disso, os fabricantes e comerciantes nortistas estavam interessados em estreitar as relações com o Oeste, vendendo-lhes artigos industriais e comprando produtos agrícolas. Por isso, eles apoiavam as reivindicações do Oeste no sentido de que a União deveria promover a construção de ferrovias e canais, ligando o Oeste ao Leste e isso era contestado pelos proprietários sulistas.

As divergências eram complicadas pela questão da escravidão, que era considerada de forma diferente entre nortistas e sulistas. Para a burguesia do Norte a abolição da escravidão era interessante porque representava a ampliação do mercado consumidor interno. A campanha antiescravista ganhou impulso não apenas pelo fato de as tendências liberais se terem avivado ao Norte, mas também pelo desenvolvimento dos movimentos humanitários ligados às teorias sociais e aos “socialistas românticos”.

Portanto, foi nesse ambiente conflitante que surgiu o novo Partido Republicano (1854), agrupando democratas e federalistas do Norte, do Oeste e até do Sul, nacionalistas e protecionistas, apresentando Abraham Lincoln como candidato às eleições de 1860. A vitória de Lincoln levou a Carolina do Sul a proclamar a dissolução da União entre esse Estado e os demais, apoiada por mais dez Estados que formaram os Estados Confederados da América.

Sendo assim, o ataque confederado ao Forte Sumter deu início às operações militares da “Guerra de Secessão”, a qual foi considerada a 1ª das grandes guerras modernas, não só pelas enormes perdas humanas (620 mil) como também porque foi uma “guerra total” – devido à utilização de todos os recursos políticos, militares, econômicos e psicológicos empregados contra os exércitos e as populações civis.

A União compreendia 23 Estados com cerca de 28 milhões de habitantes e, os Confederados, tinham 11 Estados com uma população de 9 milhões dos quais 3,5 milhões eram escravos. O sistema ferroviário da União era mais extenso e de melhor qualidade que o dos Confederados, os quais dependiam de armas e medicamentos importados. Além do mais, os estaleiros do Norte reforçaram sua esquadra cujos navios afundaram os dos Confederados e bloquearam os portos sulistas.

Apesar das várias derrotas da União – devido à incapacidade de seus generais – as desvantagens do Sul foram-se evidenciando e, desde a batalha de Gettysburg, a União começou a avançar e levou o Sul a capitular após a tomada de sua capital (Richmond) em 1865.  No decorrer do conflito, Lincoln aboliu a escravatura a fim de enfraquecer seus inimigos.

Com o fim da guerra surgiu o problema da reconstrução política, socioeconômica e financeira que foi enfrentado também pelos dois presidentes seguintes. Os Estados sulistas foram reintegrados à União, tendo que abolir a escravidão e o direito de voto aos negros. Economicamente, o Sul foi mais afetado pela guerra do que o Norte, pois muitas plantações foram arrasadas e outras confiscadas.

Dessa forma, o Sul foi obrigado a vender os produtos agrícolas aos capitalistas do Norte, os quais se valeram da condição de vencedores para transferir capitais e indústrias para os Estados sulistas. Em contraposição, o desenvolvimento econômico do Norte e do Oeste foi considerável, pois mesmo durante o conflito as necessidades bélicas estimularam a industrialização o que possibilitou a formação dos primeiros trustes – ligados aos Rockfeller’s, aos Carnegie’s e aos Morgan’s.

 

A Idade do Ouro

Após a Guerra de Secessão os EUA conheceram uma crescente prosperidade econômica, pois a produção foi estimulada pelo desenvolvimento das indústrias nortistas, pelo estabelecimento de tarifas protecionistas, pelo afluxo de mão de obra imigrante e também pelo surgimento de uma geração de ousados homens de negócios.

A ocupação de terras do Centro-Oeste acarretou uma extraordinária expansão da agricultura, facilitada pela conquista de terras aos indígenas e pela construção de ferrovias. Mas, foi a indústria que apresentou os mais elevados índices de desenvolvimento sobressaindo-se a produção de aço, onde os EUA atingiram o 1º lugar mundial.

A multiplicação de eventos, a abundância de matérias-primas, o aperfeiçoamento das comunicações, dos transportes e a criação de um sistema bancário nacional favoreceram a industrialização – rapidamente concentrada em impérios econômicos estruturados em trustes e pools.

 

A América Espanhola no Século XIX

 

Apesar dos esforços de Simón Bolívar em criar uma Confederação de Estados Americanos, o projeto que foi a primeira manifestação de Pan-Americanismo fracassou. Para isso contribuíram a oposição do Brasil monárquico (contrário a regimes republicanos), a resistência dos EUA (temiam o contágio de ideias abolicionistas) e a resistência da Inglaterra à formação de uma América forte e unida, que poderia criar obstáculos à expansão econômica inglesa.

A independência da América Espanhola fez-se ao preço de sua unidade, pois em 1831, a Grã-Colômbia fragmentou-se em três repúblicas – Venezuela, Colômbia e Equador – e, sete anos depois, as Províncias Unidas de Centro-América se dissolveram e deram origem às repúblicas da Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua e Costa Rica (1838).

Pela ação dos EUA, em 1903 o Panamá separou-se da Colômbia, sem que nos esqueçamos de que o antigo vice-reino do Prata dividiu-se em três repúblicas (Argentina, Paraguai e Uruguai) ao passo que o Peru, a Bolívia e o Chile se tornaram independentes da Espanha e entre si.

Essas guerras haviam desorganizado a economia e consequentemente as minas foram abandonadas, os rebanhos dispersados, a agricultura decaiu – pela falta de segurança e pelas colheitas destruídas – e, não é de se espantar, que os centros urbanos vissem afluir uma multidão de pobres e esfarrapados, buscando alguma ocupação.

A imaturidade na manipulação das instituições políticas levou as novas repúblicas a sangrentas guerras civis e o México –  por exemplo – passou a ter um Presidente por ano (durante 36 anos consecutivos à queda do seu primeiro caudilho). Na Venezuela verificaram-se 52 revoltas em menos de 100 anos e a Bolívia passou a ser o teatro de 60 revoltas militares, mudando 10n vezes sua Constituição, matando ou deixando morrer 6 dos seus Presidentes. Fora o Paraguai, que não conseguia se livrar das ditaduras.

Um dos aspectos desses conflitos foi o choque entre a capital e as províncias, entre as cidades e o campo, entre comerciante e produtor; ou seja, entre os centralistas e os federalistas. Rompidos os vínculos com a metrópole, o poder tendeu a deslocar-se para a classe dos senhores da terra. Daí, a estruturação dos novos Estados foi condicionada por dois fatores: _ a inexistência de interdependência entre os senhores da terra.

Desses conflitos surgiu a controvertida figura do “caudilho”, com forte base rural, índole militarista, o qual arrebatava o poder assegurando a unidade nacional e conduzindo à proliferação de ditaduras. O caudilho lutava pelo poder político central e, muitos contingentes recrutados para a guerra de emancipação, eram constituídos de seguidores de um determinado caudilho.

A carência de capitais – por causa das oscilações políticas e da corrupção administrativa – levou os governantes a contrair empréstimos na Inglaterra que conduziram à crescente dependência econômica aos países desenvolvidos, os quais lhes vendiam produtos industrializados, forneciam técnicos e empréstimos, adquiriam matérias-primas e produtos agrícolas, controlavam as alfândegas estendiam sua influência além do campo econômico.

Sendo assim, esse tipo de relacionamento econômico serve para explicar a existência do subdesenvolvimento como um tipo de fenômeno comum aos países ibero-americanos. A presença inglesa assumia a forma de organização de um comércio importador. Surgiram as casas importadoras que difundiam as manufaturas europeias, que modificaram hábitos de consumo e acarretou a desagregação das atividades artesanais locais.

A Espanha não havia se conformado com a perda de suas antigas colônias e exigiu o pagamento de indenização ao Peru; mas este, aliado ao Chile e à Bolívia, resistiu às pretensões espanholas em uma guerra que se estendeu de 1866 a 1868.

É certo que os criollos ascenderam à condição de aristocracia dirigente e que a expropriação das terras indígena foram incrementadas, mas persistiram as seguintes características: _ as grandes propriedades exploradas por métodos arcaicos; a estrutura social, baseada na posse da terra; as relações de dependência pessoal dos camponeses com relação aos proprietários; a ausência de classes médias rurais; a concentração da propriedade nas mãos de uma minoria; o predomínio da agricultura como atividade econômica e cuja produção destinava-se ao mercado externo.

Daí, no fim do século assistiu-se a um surto da imigração espanhola e portuguesa e, o fato novo, consistiu na chegada maciça de alemães e de italianos. A maioria dos imigrantes acabou se fixando nos centros urbanos, incrementando a urbanização e contribuindo para o desenvolvimento de classes médias (pequenos comerciantes, burocratas) e do proletariado (ferroviários, portuários, etc.) de diversos países, como a Argentina.

Esse quadro foi completado com as guerras entre os países latino-americanos, destacando-se a Guerra do Paraguai e a Guerra do Pacífico, além de inúmeros atritos nas fronteiras porque os limites entre os Estados americanos eram imprecisos.

A Guerra do Paraguai (1864/1870) opôs o Paraguai ao Brasil, Argentina e Uruguai, tendo suas origens no interesse do Brasil em manter um equilíbrio platino, possível com o fracionamento do antigo vice-reino do Prata, mas rompido quando Francisco Solano Lopes procurou converter o Paraguai na Prússia Platina.

Já a Guerra do Pacífico (1879/1833) levou o Chile a enfrentar a Bolívia (aliada ao Peru) em um conflito pela disputa de ricas regiões em prata, fertilizantes e nitratos; os territórios eram bolivianos e explorados por mineiros chilenos, sendo combinado que se pagaria à Bolívia as tarifas de exportações e esta se obrigava a dividir com o Chile.

No entanto, o governo boliviano não respeitou o acordo e acabou confiscando os bens de empresas chilenas, assim como os peruanos haviam feito com as companhias salitreiras chilenas de Tarapacá. O fracasso das soluções pacíficas propostas pelo Chile levou este a iniciar as hostilidades, terminadas com a vitória chilena.


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