Como se Classifica a Ciência? Quando a Ciência
Adquiriu Contornos Científicos? O Que é Um Método Científico?
As origens do pensamento científico remontam até a Grécia Antiga, embora a ciência, tal como a entendemos hoje, só adquiriu seus contornos durante o Renascimento. Mas, a Ciência Renascentista era uma ciência voltada para os fatos naturais; assim, articular ciência com sociedade é algo bem recente. Até o século XIX, a Filosofia era a disciplina que buscava entender as questões naturais, sociais e humanas, mas ela não conseguia, por si só, explicar alguns problemas como miséria, desigualdade social, conflitos de classe etc.
Os pesquisadores dessa época não
possuíam instrumentais metodológicos para abordar tais assuntos de forma científica.
Cabe destacar que a evolução humana teve significativa contribuição do método
construído pelos pensadores desde o século XV, passando por René Descartes,
Francis Bacon e Galileu Galilei, buscando o conhecimento das ciências naturais,
até o século XIX com Comte e Durkheim. Esses renomados pensadores dedicaram
suas vidas a explicar as aspirações sociais humanas por meio de métodos das
ciências naturais para as sociais.
Após essa contextualização
cabe-nos perguntar: o que é ciência? E, para tentar responder essa questão crucial
pode-se refletir que, quando o homem do paleolítico encontrou um mamute,
percebeu imediatamente que não podia enfrentá-lo. Então ele fugiu correndo e, em
sua aterrorizada da corrida, caiu e feriu o joelho em um sílex. Compreendeu que
o sílex era mais duro do que seu joelho.
O homem é o único animal que
reuniu essas diversas experiências para formular uma hipótese de trabalho, uma
hipótese que verificará experimentalmente. Essa foi, sem dúvida, uma “atividade
científica”. Assim, as disciplinas de Sociologia, História, Geografia – e
outras – podem ser entendidas como ciência porque abrigam uma série de teorias
que se propõem a explicar determinada realidade, seguindo uma metodologia e
cujas conclusões podem ser generalizadas. Evidentemente que o homem paleolítico
não tinha consciência do que estava fazendo: ele realizava suas ações seguindo
seus instintos para sobreviver. No entanto, no momento em que age e começa a
pensar no “porquê” faz algo, esse homem ancestral passa a elaborar teorias:
passa, portanto, a construir ciência.
É por meio dessa e de outras
regras, capazes de explicar determinado fenômeno social ou natural, que se
constitui uma ciência. Então, podemos entender que a teoria é um tipo de
engrenagem capaz de articular relações do cotidiano abstratamente, ou seja, é a
teoria que retira da realidade o objeto e o transforma em representação. Dessa
forma, as ciências podem ser divididas em algumas áreas e, segundo MATTAR ([1])
elas são classificadas, pelo menos, a partir de seus aspectos básicos e nos
seus métodos científicos, porém, esta não é uma atividade simples. Grosso modo,
as ciências podem ser divididas em três (3) grandes grupos:
·
Ciências Exatas: são todas aquelas que
têm a Matemática como fundamento. Assim, a Matemática, a Física, a Astronomia,
as ciências da computação e as engenharias podem ser classificadas como exatas.
·
Ciências Biológicas: são aquelas que têm
como base o estudo dos seres vivos em seus aspectos biológicos. São exemplos de
biológicas a Medicina, a Odontologia, a Educação Física, a Agronomia, a
Fisioterapia e a Fonoaudiologia.
·
Ciências Humanas: desenvolvem, em seus
estudos, uma ótica sociológica do ser humano. A Filosofia, a Sociologia, as
Letras, a Pedagogia, a Administração, a Contabilidade e o Direito são exemplos
de cursos na área de ciências humanas.
Considerações Sobre o Conhecimento
Você já tentou definir o que é
conhecimento? Pode pensar que é simples e estar dizendo para si mesmo que
conhecimento é tudo aquilo que alguém sabe. Entretanto, definir o que é
conhecimento é uma tarefa muito complexa e, primeiramente, pode-se dizer que o
conhecimento transita por diferentes áreas e espaços de aprendizagem, sendo que,
conforme FRANÇA ([2]):
“Conhecer é atividade especificamente humana. Ultrapassa o mero 'dar-se
conta de', e significa a apreensão, a interpretação. Conhecer supõe a presença
de sujeitos; um objeto que suscita sua atenção compreensiva; o uso de
instrumentos de apreensão; um trabalho de debruçar-se sobre. Como fruto desse
trabalho, ao conhecer, cria-se uma representação do conhecido - que já não é
mais o objeto, mas uma construção do sujeito. O conhecimento produz, assim,
modelos de apreensão - que por sua vez vão instruir conhecimentos futuros.
” (p. 140).
Em segundo lugar devemos entender
que o conhecimento não é, e nem pode ser, somente individual. Diz-se isso
porque ninguém sabe tudo sobre determinado assunto. Cada um sabe um pouco sobre
algo, e esse pouco individual se junta para formar um conhecimento ainda maior.
Então, o conhecimento que a sociedade tem hoje dos diversos setores que a
formam foi algo construído com o tempo. Lembre-se de que nosso antepassado
pré-histórico foi desenvolvendo as tecnologias aos poucos, pois, no início, nem
o fogo ele sabia acender. Este foi um dos primeiros conhecimentos fundamentais
para o desenvolvimento da humanidade. Nesse contexto, hoje, a humanidade domina
uma gama tão grande de conhecimento que estes foram sendo divididos em setores.
Veja que o conhecimento de um padre ou de um pastor é bem diferente do
conhecimento de um médico.
Para curar uma doença, por
exemplo, o médico vai pedir exames, receitar uma medicação, já o padre ou o
pastor pode realizar uma oração em benefício da cura do doente. Qual deles é o melhor
conhecimento? Nenhum, pois não há juízo de valor para isso. Nos dois casos, pressupõe-se
que tanto o médico quanto o pastor ou o padre sejam estudiosos de suas áreas de
conhecimento. O diferencial entre uma área e outra é a linguagem e a metodologia
aplicadas por quem constrói o conhecimento. Assim, quando o estudioso vai a
fundo em seus estudos, ele pode ser considerado um pesquisador.
Mas o que faz um pesquisador?
Perceba que, para esse profissional, o mais importante são as perguntas que
fazemos para desvendar determinados mistérios. Isto porque esses
questionamentos constituem a base das atividades do pesquisador e percorrerão toda
a sua linha de investigação. A isto chamamos de Método, e às suas respostas chamamos
de Conhecimento Científico. Além disso, esse conhecimento produzido a partir
das respostas alcançadas pelas perguntas, surge para o pesquisador como representações
da realidade. É um conhecimento construído sobre um conhecimento anterior,
ampliando os horizontes dos saberes e produzindo novas perguntas que culminarão
em novos conhecimentos. Diante desse contexto, observe que a construção do
conhecimento – seja para entender a regra de um jogo desportivo ou uma complexa
organização social – ocorre a partir da inquietude, curiosidade e proatividade
de quem investiga.
Perceba que, em todos os tempos
históricos, a humanidade sempre construiu conhecimento, seja de uma forma ou de
outra, como colocam BASTOS e KELLER ([3]):
“A história humana é a história das lutas
pelo conhecimento da natureza para interpretá-la e para dominá-la. Cada geração
recebe um mundo interpretado por gerações anteriores. Esta história está
constituída por interpretações místicas, proféticas, filosóficas, científicas,
enfim, por ideologias. Cada indivíduo que vem ao mundo já o encontra pensado, pronto:
regras morais estabelecidas, sociedade organizada, religiões estruturadas, leis
codificadas, classificações preparadas. No entanto, tal estruturação do mundo
não justifica a alguém se sentir dispensado de repensar este mundo, porque caso
contrário tem-se o lugar comum, a mediocridade e, o que é pior, a alienação”
(p. 54).
([2]) FRANÇA,
J. L. et al. Manual para normalização de publicações técnico-científicas. 8.
ed. rev. e aum. Belo Horizonte: UFMG, 2011.
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