Por Que o Que Não
Passa Pela Mídia Eletrônica Torna-se Estranho aos Telespectadores? De Que Forma
a TV Participa da Formação Social e Cultural da Sociedade?
Um dos fenômenos sócias e culturais mais
importantes na história da humanidade, a televisão acabou ocupando grande parte
das horas na vida cotidiana dos cidadãos, com um enorme poder de fascinação e
penetração. A televisão entranhou-se tão profundamente na nossa vida política
que nada lhe pode ser exterior, pois tudo o que acontece pressupõe sua mediação,
acontecendo, portanto, para a TV ([1]).
Sendo assim,
aquilo que não passa pela mídia eletrônica torna-se estranho ao conhecimento e
à sensibilidade dos homens contemporâneos. Isto é, pode-se dizer que a
televisão representa uma das armas mais potentes da hegemonia humana.
Sob o ponto de vista de alguns estudiosos,
a linguagem na TV (e da TV) constitui-se lugar de confronto de ideologias em
múltiplos discursos que fazem parte do jogo de sentidos entre produtores,
espectadores e, ao mesmo tempo, instrumento na luta pela hegemonia de um
sentido na tentativa por um modo de vida, com o qual muitos se identifiquem e
se enquadrem.
Afinal, quantas vezes nos acostumamos com
certos programas de televisão que começamos a assistir por causa da audiência?
Quantas vezes não “adotamos” modos de ser, maneiras de nos relacionarmos com o
mundo, abraçarmos determinadas causas, empunharmos bandeiras, brandimos
interesses e valores propostos que não são necessariamente nossos?
Daí a estratégia discursiva parece ser a
de incorporar a “diferença aparente” como forma de unificação cultural e como
movimento que mantém a hegemonia de sentidos. E, considerando as diversas
tendências nas teorias da comunicação social, pode-se dizer que a televisão
participa intensamente da formação social e cultural dos cidadãos das sociedades
contemporâneas e que, portanto, se caracteriza como um espaço-tempo educativo.
Neste espaço-tempo de mediação criado na
relação entre a mídia e as pessoas, as práticas de linguagem da TV materializam
conflitos e são sujeitas a uma gama de situações de relação / uso / embate e,
portanto, por mais que os discursos da TV eliminem esses conflitos, seu
potencial de produção de sentidos hegemônicos nunca será absoluto.
Dessa forma, apesar da importância dos
estudos da recepção – e do valor – dos conhecimentos produzidos a partir do uso
que se faz da mídia, estes não serão considerados nesse artigo. Nossos objetivos
serão as linguagens (imagens, som e palavras) e seus modos de articulação nos
textos televisivos.
Para conhecermos como os modos de articulação de linguagens
na TV funcionam na produção de sentidos hegemônicos, o ponto inicial é definir
o nosso conceito sobre o que é linguagem e tentar explicitar as relações entre
as práticas de linguagem e as mudanças sociais mais amplas.
Alguns cientistas consideram a linguagem
como uma prática que altera o mundo e altera os outros indivíduos no mundo e,
para eles, a dimensão do discurso social possui três (3) efeitos: (a) contribui para a construção do que é
referido como “identidades sociais” e posições de sujeito; (b) participa da construção das relações
sociais de poder; (c) contribui para
a construção de sistemas de conhecimento e crença.
Dessa forma, pode-se afirmar
que as práticas discursivas em mudanças contribuem para modificar o
conhecimento, as relações sociais e as identidades sociais.
Como prática social, o discurso é
determinado pelas estruturas sociais, sendo regido por regras, normas e
convenções estáveis e tem sempre uma finalidade social determinada, portanto a
prática discursiva e a estrutura social estão em permanente relação dialética.
Assim, podemos afirmar que a linguagem é uma prática social.
A partir desse conceito podemos destacar
três (3) considerações sobre a linguagem e, a 1ª delas, ressalta a importância
de se considerar a relação fundamental entre a linguagem, o sujeito e a sociedade.
Observando a linguagem concreta usada por sujeitos na sociedade, é possível
perceber que não há uma rígida significação para cada significante, como os
formalistas imaginavam poder atribuir a cada palavra ou expressão da língua. A
significação dependerá do contexto de onde a palavra é dita – por quem é dita,
para quem é dita, onde é dita e quando é dita.
A 2ª consideração sobre linguagem é a noção
de interlocução e de argumentação como fundamentais para compreender a
linguagem e seus significados. O significado existe em função da intenção e do
interesse social do locutor e do reconhecimento dessa interação pelo ouvinte.
A 3ª consideração é a de que a linguagem
não é usada apenas para informar, mas para realizar vários tipos de ação. A
linguagem é prática social, não só instrumento de pensamento ou instrumento de
comunicação.
Ela tem função decisiva na constituição da identidade e da
sociedade. Assim, a linguagem não é apenas expressão do pensamento humano,
tampouco é apenas uma projeção da realidade extra discursiva. Na medida em que
reflete e refrata interesses individuais e sociais, não é transparente.
Portanto, a linguagem constitui-se como um
lugar de confronto entre o sujeito e a sociedade e como prática social, ao
participar da constituição das identidades e das relações sociais. E, voltando
o foco para o objeto desse artigo, podemos afirmar que a linguagem na TV (e da
TV) é – ao mesmo tempo – uma prática discursiva e social, participando da
formação social e cultural dos indivíduos.
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1])
MACHADO,
Arlindo. “A Arte do Vídeo”. São Paulo, Brasiliense, 1988, p. 8
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