terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

A Multiplicação das Empresas HRtechs


Depois das “Fintechs” Surgem as “Startups” Que Prometem Desburocratizar e Agilizar os Processos de Gestão de Pessoas







Profissionais insatisfeitos, alta rotatividade, absenteísmo, reforma trabalhista e e-social. A lista de desafios da área de RH das organizações é extensa e, para tentar tapar cada um desses buracos, pequenas empresas baseadas em tecnologia têm surgido no Brasil. Depois das “Fintechs”, das “Agrotechs”, das “Insurtechs” e das “Edutechs”, chegou a vez das “HRtechs”.




A novidade dessas “startups” é a aplicação de análises de dados e inteligência artificial em todas as práticas de gestão de pessoas, desde folha de pagamentos e administração de benefícios, até recrutamento e seleção e as avaliações de desempenho. Esse negócio tem atraído muitos empreendedores e investidores. E, segundo a consultoria CB Insights, as “HRtechs” captaram 7,3 bilhões de dólares em todo o mundo desde 2012.

Com empreendimentos nascendo todos os dias, é quase impossível saber quantos voltados para a gestão de pessoas existem. A Associação Brasileira de Startups tem 17 associados com esse perfil, mas mapeou-se pelo menos outras 20 que atuam no ramo. Assim como as “Fintechs”, surgiram para desburocratizar os serviços bancários, a origem das “HRtechs” se conecta a uma mudança de cultura e de esquemas de trabalho. Há, dentro das organizações, um deslocamento das funções de Recursos Humanos de um departamento burocrático para uma área estratégica de seleção e retenção de talentos que ajude os resultados dos negócios.   

Essas “startups” ajudam a imprimir velocidade às práticas de gestão do capital humano, algo pelo qual o líder de RH tem sido cobrado. “Existe hoje uma grande preocupação com a transformação geracional que demanda adaptações na proposta de valor e nas experiências que a empresa precisa entregar e a tecnologia é uma delas”, diz Marcelo De Lucca, sócio da KPMG.

Assim como a prioridade do RH é atrair e manter talentos, boa parte das “HRtechs” atua em recrutamento e seleção, buscando desenvolver ferramentas para tornar o processo mais escalável, tirando o peso da análise de milhares de currículos pelos profissionais de RH. A promessa das “startups” é localizar o perfil de candidatos que a empresa precisa e, ao mesmo tempo, o perfil da empresa que o candidato procura.

A AMVEV fez um “piloto” para contratar pessoas para as áreas operacionais e de vendas, usando os serviços da Rankdone – um marketplace de testes para conhecimentos técnicos que ajuda na seleção. Segundo a Gerente de Gestão e Pessoas, os candidatos que aram o sistema reportaram uma satisfação de 96% e o tempo de triagem dos candidatos caiu 70%. Outro aplicativo que trouxe agilidade no recrutamento foi o “Indique Um Amigo”, desenvolvido pela Luxfacta e instalado em 2016. Ele automatizou o costume dos funcionários levarem currículos de conhecidos que desejam trabalhar na AMBEV.

A KPMG testou os serviços de mais de 10 “HRtechs” e, uma delas, foi a plataforma da Matchbox para a contratação de trainees. A startup usa a inteligência artificial, realidade virtual e games para oferecer experiência nos processos seletivos. A novidade começa na candidatura às vagas, que substitui os formulários por um software que simula uma conversa com o jovem, a fim de coletar informações. Na seleção, em vez de testes psicológicos, usam-se games para avaliar a habilidade de o profissional resolver problemas. O programa diminuiu em 20% o tempo de preenchimento das vagas – segundo Marcelo De Lucca.

Com sistemas mais eficientes, as organizações conseguem reduzir os custos dos processos de recrutamento e, a Natura, por exemplo, passou 6 meses tentando encontrar um desenvolvedor mobile. “A posição era complexa, com alta exigência de perfil e oferta pequena no mercado”, dia Flávio Pesiguelo, Diretor de Pessoas da Natura. Ele contratou a plataforma “Contratado ME” e, uma vez criado o perfil da vaga, em menos de 1 minuto o sistema gerou uma lista de 4 candidatos para ser entrevistados. Em 7 dias, o profissional foi empregado.

Contudo, ainda não houve tempo para os profissionais de RH mensurarem se as contratações são, de fato, mais eficientes, embora a percepção de quem já usa a plataforma vai nessa linha. Além da agilidade, o custo acessível explica o boom das “HRtechs”. A maioria vende o uso do sistema ou do aplicativo como se fosse uma assinatura. Baseado na nuvem, isso elimina os programas proprietários, a compra de máquinas e os gastos com equipes especializadas.

Os preços variam conforme o serviço prestado e a customização dos sistemas, sendo calculados de acordo com o tamanho da empresa; ou seja, com até 50 empregados; de 51 até 100 e assim por diante. Marcelo Abreu – especialista em tecnologia da informação da AMBEV – avalia que outra vantagem das “HRtechs” é a flexibilidade de construir ferramentas para atender a demandas específicas. A desvantagem é que, por se tratarem de “startups”, muitas vezes suas estruturas de suporte técnico não suportam o atendimento às corporações maiores.

Não dá para negar que a taxa de mortalidade dessas novatas ainda é alta, mas segundo o fundador da aceleradora “Liga Ventures” (Guilherme Massa), um contrato de 50 mil reais acordado com um grande cliente, pode assegurar a sobrevivência das “startups”.



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