Depois das “Fintechs” Surgem as “Startups” Que Prometem Desburocratizar e
Agilizar os Processos de Gestão de Pessoas
Profissionais insatisfeitos, alta
rotatividade, absenteísmo, reforma trabalhista e e-social. A lista de desafios
da área de RH das organizações é extensa e, para tentar tapar cada um desses
buracos, pequenas empresas baseadas em tecnologia têm surgido no Brasil. Depois
das “Fintechs”, das “Agrotechs”, das “Insurtechs” e das “Edutechs”,
chegou a vez das “HRtechs”.
A novidade dessas “startups” é a aplicação de análises de dados e inteligência
artificial em todas as práticas de gestão de pessoas, desde folha de pagamentos
e administração de benefícios, até recrutamento e seleção e as avaliações de
desempenho. Esse negócio tem atraído muitos empreendedores e investidores. E,
segundo a consultoria CB Insights, as “HRtechs”
captaram 7,3 bilhões de dólares em todo o mundo desde 2012.
Com empreendimentos nascendo todos os
dias, é quase impossível saber quantos voltados para a gestão de pessoas existem.
A Associação Brasileira de Startups tem 17 associados com esse perfil, mas
mapeou-se pelo menos outras 20 que atuam no ramo. Assim como as “Fintechs”, surgiram para desburocratizar
os serviços bancários, a origem das “HRtechs”
se conecta a uma mudança de cultura e de esquemas de trabalho. Há, dentro das
organizações, um deslocamento das funções de Recursos Humanos de um
departamento burocrático para uma área estratégica de seleção e retenção de
talentos que ajude os resultados dos negócios.
Essas “startups”
ajudam a imprimir velocidade às práticas de gestão do capital humano, algo pelo
qual o líder de RH tem sido cobrado. “Existe hoje uma grande preocupação com a
transformação geracional que demanda adaptações na proposta de valor e nas
experiências que a empresa precisa entregar e a tecnologia é uma delas”, diz
Marcelo De Lucca, sócio da KPMG.
Assim como a prioridade do RH é atrair e
manter talentos, boa parte das “HRtechs”
atua em recrutamento e seleção, buscando desenvolver ferramentas para tornar o
processo mais escalável, tirando o peso da análise de milhares de currículos
pelos profissionais de RH. A promessa das “startups”
é localizar o perfil de candidatos que a empresa precisa e, ao mesmo tempo, o
perfil da empresa que o candidato procura.
A AMVEV fez um “piloto” para contratar
pessoas para as áreas operacionais e de vendas, usando os serviços da Rankdone
– um marketplace de testes para
conhecimentos técnicos que ajuda na seleção. Segundo a Gerente de Gestão e
Pessoas, os candidatos que aram o sistema reportaram uma satisfação de 96% e o
tempo de triagem dos candidatos caiu 70%. Outro aplicativo que trouxe agilidade
no recrutamento foi o “Indique Um Amigo”, desenvolvido pela Luxfacta e
instalado em 2016. Ele automatizou o costume dos funcionários levarem
currículos de conhecidos que desejam trabalhar na AMBEV.
A KPMG testou os serviços de mais de 10 “HRtechs” e, uma delas, foi a plataforma
da Matchbox para a contratação de trainees. A startup usa a inteligência artificial, realidade virtual e games para oferecer experiência nos
processos seletivos. A novidade começa na candidatura às vagas, que substitui
os formulários por um software que simula uma conversa com o jovem, a fim de
coletar informações. Na seleção, em vez de testes psicológicos, usam-se games para avaliar a habilidade de o
profissional resolver problemas. O programa diminuiu em 20% o tempo de
preenchimento das vagas – segundo Marcelo De Lucca.
Com sistemas mais eficientes, as
organizações conseguem reduzir os custos dos processos de recrutamento e, a
Natura, por exemplo, passou 6 meses tentando encontrar um desenvolvedor mobile. “A posição era complexa, com
alta exigência de perfil e oferta pequena no mercado”, dia Flávio Pesiguelo,
Diretor de Pessoas da Natura. Ele contratou a plataforma “Contratado ME” e, uma
vez criado o perfil da vaga, em menos de 1 minuto o sistema gerou uma lista de
4 candidatos para ser entrevistados. Em 7 dias, o profissional foi empregado.
Contudo, ainda não houve tempo para os
profissionais de RH mensurarem se as contratações são, de fato, mais
eficientes, embora a percepção de quem já usa a plataforma vai nessa linha.
Além da agilidade, o custo acessível explica o boom das “HRtechs”. A
maioria vende o uso do sistema ou do aplicativo como se fosse uma assinatura.
Baseado na nuvem, isso elimina os programas proprietários, a compra de máquinas
e os gastos com equipes especializadas.
Os preços variam conforme o serviço
prestado e a customização dos sistemas, sendo calculados de acordo com o
tamanho da empresa; ou seja, com até 50 empregados; de 51 até 100 e assim por
diante. Marcelo Abreu – especialista em tecnologia da informação da AMBEV –
avalia que outra vantagem das “HRtechs”
é a flexibilidade de construir ferramentas para atender a demandas específicas.
A desvantagem é que, por se tratarem de “startups”,
muitas vezes suas estruturas de suporte técnico não suportam o atendimento às
corporações maiores.
Não dá para negar que a taxa de
mortalidade dessas novatas ainda é alta, mas segundo o fundador da aceleradora
“Liga Ventures” (Guilherme Massa), um contrato de 50 mil reais acordado com um
grande cliente, pode assegurar a sobrevivência das “startups”.
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