quinta-feira, 7 de agosto de 2025

PARA QUE SONHAR?


Definir o que é um sonho não é uma tarefa fácil, mas pode-se dizer que um sonho é aquilo que você vê e escuta enquanto dorme


 


No livro “A Interpretação dos Sonhos”, Sigmund Freud argumentou que os sonhos são mensagens do inconsciente sobre os desejos reprimidos. Já Carl Jung sugeriu que os sonhos tinham uma finalidade; ou seja, seriam uma tentativa da consciência para regular e compensar situações vividas. Mas, os sonhos ficaram no imaginário dos pensadores por muito tempo e somente nos anos 1950 o processo onírico ganhou análises científicas, impulsionadas pela descoberta do “Sono REM” (Movimento Rápido dos Olhos). Foi nessa fase que a atividade cerebral está mais agitada, ocasionando os sonhos mais vívidos. A partir disso, surgiram mais hipóteses para a função dos sonhos e a mais difundida é que eles servem para a consolidação de memórias. Para Gabriel Pires (Médico e Pesquisador do Instituto do Sono), no sono revivemos o que aconteceu no dia, associando com experiências passadas.

Já para o Neurocientista Sidarta Ribeiro, os sonhos são um aprendizado lento e gradual que começa no útero materno, com a formação das primeiras representações sensoriais na fronteira do corpo com o mundo exterior. Ele acredita que os sonhos evoluíram depois de um longo processo de desenvolvimento do sono, ainda no início da vida molecular. “Registros históricos mostram que as civilizações mais antigas já os interpretavam como ensinamentos de antepassados ou profetas. É o caso da história sobre a morte do Imperador Julio Cesar, quando sua esposa Calpúrnia relatou um sonho com o assassinato do marido, um dia antes do acontecido, em 44 A.C.”

 

Força na Memória

 

Ao dormir, o cérebro fica ativo processando as memórias adquiridas ao longo do dia e isso é possível por causa do ciclo do sono, o qual é composto de duas (2) fases:

 

·        A Fase NREM (Movimento Não Rápido dos Olhos: Corresponde à maior parte do repouso e é dividida em estágios que começam com a sonolência e vão até o sono profundo.

·        A Fase REM (Movimento Rápido dos Olhos): Na qual a atividade cerebral fica extremamente intensa.

 

“Os sonhos do sono REM são mais ricos, fantasiosos e longos. Ou seja, você sonha todas as noites, em todas as fases, mas não é capaz de se lembrar”. E o esquecimento tem explicações no sono REM, pois é muito baixo o nível de noradrenalina, neurotransmissor fundamental para ativar a atenção e a formação de memórias.  Mas, segundo pesquisa japonesa, a diferença entre se lembrar ou esquecer dos sonhos pode ser explicada pela genética – mais especificamente pelos genes Chrm1 e Chrm3. O primeiro fragmenta o período do sono REM e o segundo diminui o tempo do NREM. Eles são responsáveis por codificar a acetilcolina, neurotransmissor relacionado à memória que atua durante o sono REM. Nesse estudo, os cientistas retiraram ambos os genes de camundongos, fazendo-os não apresentarem nenhum sono REM e, consequentemente, nenhum sonho mais vívido. Existem algumas técnicas para lembrar dos sonhos e que ajudam a perceber padrões e anormalidades:

 

·        Anote: Especialistas recomendam que você sempre escreva seus sonhos, pois isso tornará mais ativa sua relação com eles. Também é uma maneira de reconhecer os aspectos comuns e os raros.

·        Desenhe: Ficou sem palavras? Desenhar formatos geométricos, animais, objetos ou qualquer outro item que apareça no seu sonho também é um jeito eficiente. O importante é ter referências reconhecíveis para você.

·        Respire: O ideal é colocar os sonhos no papel logo após acordar, quando há menos chances de esquecê-los. Para isso, evite sair da cama rapidamente e deixe para olhar aparelhos eletrônicos em outro momento.

·        Nomeie: Além de escrever ou desenhar, é recomendável dar títulos aos sonhos para ajudar a captar o que é essencial em cada um. Com essa organização, você terá um bom caderninho dos sonhos.

·        Mentalize: Se ainda estiver com dificuldade de lembrar dos sonhos, uma boa ideia é pensar repetidamente: “eu vou sonhar” ao se deitar. Isso poderá ajudar a indicar para a mente o seu desejo de recordar.

 

 Para além das curiosidades que alimentamos sobre os sonhos, o papel deles para a saúde não deve ser subestimado. Como contribuem para a consolidação da memória, as experiências oníricas influenciam no desenvolvimento do aprendizado. Além disso, podem ser úteis para a identificação de problemas do sono e até distúrbios psiquiátricos como a esquizofrenia, por exemplo.  Conforme aquilo que o paciente recorda de suas noites, os médicos podem compor o quebra-cabeça do diagnóstico. Para Gabriel Pires, se uma pessoa se uma pessoa se lembra de múltiplos sonhos por noite, todos os dias, pode indicar que ela tem um sono fragmentado. “Por exemplo, durante a gestação o sono da mulher é fragmentado por causa dos hormônios, ou pelo desconforto físico. E, se dormir mal for recorrente, a imunidade fica fragilizada, a memória é afetada e tornam-se maiores os riscos de depressão e obesidade”.

Sidarta Ribeiro considera outra vantagem do sonhar: a evolução do ser humano. “A explosão de conhecimento da humanidade só aconteceu porque passamos milhões de anos dormindo e, em algum momento, acreditando que os sonhos eram reais”. Para ele, o sonho é uma poderosa ferramenta biológica para prever o futuro, pois se a gente prestasse mais atenção aos sonhos, talvez conseguíssemos ver com mais clareza as consequências negativas do mundo atual.

 

Assuma o Controle

 

 ·        História: Há séculos, povos americanos, indígenas e tibetanos já sabiam controlar experiências oníricas. Existem diversos métodos – novos e antigos – para atrair os chamados “sonhos lúcidos”.

·        Condição: Ao menos uma vez na vida, quase todo mundo experimentou um “sonho lúcido”. Mas, para tê-lo regularmente, é preciso ter uma genética particular – ainda desconhecida – ou muito treinamento.

·        Técnica: Acalme-se para dormir, se afastando de todos os estímulos externos. Ao deitar, peça para ter sonhos lúcidos, uma vez que essa autossugestão mostrará para a sua mente qual é o seu objetivo.

·        Química: Conforme estudos da Universidade de Wisconsin, a ocorrência desses sonhos está ligada a substâncias químicas inibidoras da enzima acetil-colinesterase, que ativam o neurotransmissor acetilcolina.

·        Ondas: Em 2009, pesquisadores mostraram que durante os sonhos ocorre uma intensificação de ondas cerebrais, rápidas no córtex pré-frontal, em comparação com o sono REM não lúcido.

·        Futuro: Pesquisa de 2018 da UFRN revelou que estudar sonhos lúcidos pode contribuir para o tratamento da esquizofrenia, depressão e estresse pós-traumático.

 

  

Revista GALILEU (Outubro / 2019)


Nenhum comentário :

Postar um comentário