Definir o que é um sonho não é uma tarefa fácil, mas
pode-se dizer que um sonho é aquilo que você vê e escuta enquanto dorme
No livro “A Interpretação dos
Sonhos”, Sigmund Freud argumentou que os sonhos são mensagens do inconsciente
sobre os desejos reprimidos. Já Carl Jung sugeriu que os sonhos tinham uma
finalidade; ou seja, seriam uma tentativa da consciência para regular e
compensar situações vividas. Mas, os sonhos ficaram no imaginário dos pensadores
por muito tempo e somente nos anos 1950 o processo onírico ganhou análises
científicas, impulsionadas pela descoberta do “Sono REM” (Movimento Rápido dos
Olhos). Foi nessa fase que a atividade cerebral está mais agitada, ocasionando
os sonhos mais vívidos. A partir disso, surgiram mais hipóteses para a função
dos sonhos e a mais difundida é que eles servem para a consolidação de
memórias. Para Gabriel Pires (Médico e Pesquisador do Instituto do Sono), no
sono revivemos o que aconteceu no dia, associando com experiências passadas.
Já para o Neurocientista Sidarta
Ribeiro, os sonhos são um aprendizado lento e gradual que começa no útero
materno, com a formação das primeiras representações sensoriais na fronteira do
corpo com o mundo exterior. Ele acredita que os sonhos evoluíram depois de um
longo processo de desenvolvimento do sono, ainda no início da vida molecular. “Registros
históricos mostram que as civilizações mais antigas já os interpretavam como
ensinamentos de antepassados ou profetas. É o caso da história sobre a morte do
Imperador Julio Cesar, quando sua esposa Calpúrnia relatou um sonho com o
assassinato do marido, um dia antes do acontecido, em 44 A.C.”
Força na Memória
Ao dormir, o cérebro fica ativo
processando as memórias adquiridas ao longo do dia e isso é possível por causa
do ciclo do sono, o qual é composto de duas (2) fases:
·
A Fase NREM (Movimento Não Rápido dos Olhos:
Corresponde à maior parte do repouso e é dividida em estágios que começam com a
sonolência e vão até o sono profundo.
·
A Fase REM (Movimento Rápido dos Olhos):
Na qual a atividade cerebral fica extremamente intensa.
“Os sonhos do sono REM são mais
ricos, fantasiosos e longos. Ou seja, você sonha todas as noites, em todas as
fases, mas não é capaz de se lembrar”. E o esquecimento tem explicações no sono
REM, pois é muito baixo o nível de noradrenalina, neurotransmissor fundamental
para ativar a atenção e a formação de memórias. Mas, segundo pesquisa japonesa, a diferença
entre se lembrar ou esquecer dos sonhos pode ser explicada pela genética – mais
especificamente pelos genes Chrm1 e Chrm3. O primeiro fragmenta o período do
sono REM e o segundo diminui o tempo do NREM. Eles são responsáveis por
codificar a acetilcolina, neurotransmissor relacionado à memória que atua
durante o sono REM. Nesse estudo, os cientistas retiraram ambos os genes de
camundongos, fazendo-os não apresentarem nenhum sono REM e, consequentemente,
nenhum sonho mais vívido. Existem algumas técnicas para lembrar dos sonhos e
que ajudam a perceber padrões e anormalidades:
·
Anote: Especialistas recomendam que você
sempre escreva seus sonhos, pois isso tornará mais ativa sua relação com eles.
Também é uma maneira de reconhecer os aspectos comuns e os raros.
·
Desenhe: Ficou sem palavras? Desenhar
formatos geométricos, animais, objetos ou qualquer outro item que apareça no
seu sonho também é um jeito eficiente. O importante é ter referências
reconhecíveis para você.
·
Respire: O ideal é colocar os sonhos no
papel logo após acordar, quando há menos chances de esquecê-los. Para isso, evite
sair da cama rapidamente e deixe para olhar aparelhos eletrônicos em outro
momento.
·
Nomeie: Além de escrever ou desenhar, é
recomendável dar títulos aos sonhos para ajudar a captar o que é essencial em
cada um. Com essa organização, você terá um bom caderninho dos sonhos.
·
Mentalize: Se ainda estiver com
dificuldade de lembrar dos sonhos, uma boa ideia é pensar repetidamente: “eu
vou sonhar” ao se deitar. Isso poderá ajudar a indicar para a mente o seu
desejo de recordar.
Para além das curiosidades que alimentamos
sobre os sonhos, o papel deles para a saúde não deve ser subestimado. Como contribuem
para a consolidação da memória, as experiências oníricas influenciam no desenvolvimento
do aprendizado. Além disso, podem ser úteis para a identificação de problemas
do sono e até distúrbios psiquiátricos como a esquizofrenia, por exemplo. Conforme aquilo que o paciente recorda de suas
noites, os médicos podem compor o quebra-cabeça do diagnóstico. Para Gabriel
Pires, se uma pessoa se uma pessoa se lembra de múltiplos sonhos por noite,
todos os dias, pode indicar que ela tem um sono fragmentado. “Por exemplo,
durante a gestação o sono da mulher é fragmentado por causa dos hormônios, ou
pelo desconforto físico. E, se dormir mal for recorrente, a imunidade fica
fragilizada, a memória é afetada e tornam-se maiores os riscos de depressão e
obesidade”.
Sidarta Ribeiro considera outra vantagem
do sonhar: a evolução do ser humano. “A explosão de conhecimento da humanidade
só aconteceu porque passamos milhões de anos dormindo e, em algum momento,
acreditando que os sonhos eram reais”. Para ele, o sonho é uma poderosa ferramenta
biológica para prever o futuro, pois se a gente prestasse mais atenção aos
sonhos, talvez conseguíssemos ver com mais clareza as consequências negativas
do mundo atual.
Assuma o Controle
·
Condição: Ao menos uma vez na vida, quase
todo mundo experimentou um “sonho lúcido”. Mas, para tê-lo regularmente, é
preciso ter uma genética particular – ainda desconhecida – ou muito
treinamento.
·
Técnica: Acalme-se para dormir, se
afastando de todos os estímulos externos. Ao deitar, peça para ter sonhos
lúcidos, uma vez que essa autossugestão mostrará para a sua mente qual é o seu
objetivo.
·
Química: Conforme estudos da Universidade
de Wisconsin, a ocorrência desses sonhos está ligada a substâncias químicas
inibidoras da enzima acetil-colinesterase, que ativam o neurotransmissor
acetilcolina.
·
Ondas: Em 2009, pesquisadores mostraram
que durante os sonhos ocorre uma intensificação de ondas cerebrais, rápidas no
córtex pré-frontal, em comparação com o sono REM não lúcido.
·
Futuro: Pesquisa de 2018 da UFRN revelou
que estudar sonhos lúcidos pode contribuir para o tratamento da esquizofrenia,
depressão e estresse pós-traumático.
Revista GALILEU
(Outubro / 2019)
Nenhum comentário :
Postar um comentário