quarta-feira, 17 de julho de 2019

Fusões e Aquisições – Conceitos e Classificação



De Onde Vem o Termo Fusões e Aquisições? Qual a Diferença Entre Fusão e Aquisição? Como se Classificam as Fusões e Aquisições? Quais São as Principais Regras de Peter Drucker Para as Fusões e Aquisições?








O termo “Fusões e Aquisições” advém do seu análogo em inglês “merges and acquisitions” (abreviado pelas suas inicias M&A) e, o seu significado, nos remete a um conjunto de operações empresariais que lidam com a compra ou composições de empresas. Essas operações permitem que as organizações sejam vendidas, compradas e até concentradas.

A fusão é uma técnica de reorganização empresarial, caracterizada pela união de duas (2) ou mais empresas em uma nova e, como o próprio nome diz, as fusões têm o objetivo de fundir ou combinar as empresas. Com a ocorrência de uma fusão ocorre o desaparecimento das empresas que se fundiram, dando lugar a uma só e fazendo surgir uma outra sociedade, a qual assume as obrigações das anteriores.

Ao contrário da fusão, a aquisição ocorre com a compra de uma empresa por outra e, nesse caso, isso significa que uma das organizações permanece, mas não significa que a outra acabará. Ela pode ou não permanecer, mas sob nova direção. No contexto de “Fusões e Aquisições”, a aquisição geralmente visa o controle da empresa adquirida e pode ocorrer de maneira total – com toda a empresa sendo vendida – ou parcial, vendendo-se apenas parte da empresa.

Esse texto tenta desenvolver o alicerce sobre Fusões e Aquisições”, antes de apresentar alguns insights de Peter Drucker. Tal alicerce inclui como classificar os vários acordos de fusão e aquisição, em termos de suas estratégias de crescimento e da mecânica e processos de elaboração de tais acordos. Para ele existem pouquíssimas fusões e, na maioria das vezes, o que ocorre são aquisições.

Imaginemos que uma empresa com faturamento de R$ 1 bilhão adquira outra com faturamento de R$ 100 milhões. Para a empresa mais rica, conforme SWAIM ([1]), trata-se de uma aquisição e, para a menos rica, uma fusão. Trata-se de uma questão psicológica em termos de descrição da transação, pois poucos gerentes da empresa menor admitiriam que estão sendo adquiridos, como se estivessem apresentando um mau desempenho.

Portanto, a transação é vista como uma fusão. Essa atitude gera reações negativas na empresa menor e, na maior parte das vezes, contribui para o eventual fracasso do novo arranjo. Dessa forma, a expressão “Fusões e Aquisições” (F&A) geralmente se refere a aquisições e não a fusões, embora os termos costumem ser usados um pelo outro.


Classificação dos Tipos de Fusões e Aquisições



A) Fusões e Aquisições Verticais: Existem dois (2) tipos de F&A, “para frente” e “para trás”. As “Fusões e Aquisiçõespara trás envolvem a aquisição de um fornecedor, sendo motivada pela necessidade de garantir uma fonte de oferta como uma matéria-prima usada em um processo de manufatura , bem como custos materiais mais baixos. Por exemplo, uma siderúrgica chinesa que adquire uma extratora de minério de ferro australiana. A desvantagem óbvia é vender o excesso de capacidade, caso as condições de mercado mudem e a demanda do produto do fabricante (por exemplo, aço) caia.

As “Fusões e Aquisiçõespara frente envolvem a aquisição de uma empresa com a qual a organização tinha uma relação de distribuição, motivada pela necessidade de reduzir os custos de marketing e de canal, bem como aproximar-se dos clientes para melhor entender suas necessidades.

B) Fusões e Aquisições Horizontais: As duas aquisições horizontais mais comuns são a aquisição de uma empresa que tem um produto comparável ou uma extensão de produto e, a segunda, é a expansão geográfica em um novo mercado. Ambas integram a estratégia de crescimento do negócio e são os tipos de aquisições que se relacionam com os dizeres de Drucker: “É mais barato comprar do que construir”. Esses tipos de aquisição também poderiam fazer parte de uma estratégia de diversificação por meio da aquisição de um negócio em um setor afim ou em outro setor.

C) Conglomerados: Aquisições feitas essencialmente por razões financeiras, sem relação com as outras empresas do portfólio do negócio. Cada negócio é administrado como se fosse uma entidade distinta, exigindo-se a existência de uma forte equipe gerencial, uma vez que os executivos da holding não são especialistas no ramo, tampouco têm longa experiência em todos os aspectos do negócio.

D) Aquisições Hostis: Costumam ser raras e só podem ocorrer se a empresa adquirida tiver ações comercializadas em bolsa – é impossível assumir uma empresa  de capital fechado. As aquisições hostis são motivadas por estratégias de crescimento que buscam dominar um setor, conquistar um grande cliente ou eliminar um concorrente de peso.

Regras de Peter Drucker Para Fusões e Aquisições


O boom de fusões na década de 1980 não teve motivações de negócios. Trata-se simplesmente de manipulação financeira. Entretanto, uma aquisição precisa fazer sentido empresarial, ou não funcionará nem mesmo como medida financeira. Leva tanto ao fracasso financeiro quanto ao fracasso do negócio([2])

1ª) As Aquisições Devem se Basear na Estratégia de Negócios, e Não na Estratégia Financeira: As aquisições baseadas em estratégias financeira estão praticamente condenadas ao fracasso, pois sem uma estratégia de negócios a empresa adquirente não saberá o que fazer com a adquirida. O sucesso das aquisições se baseia em Planos de Negócios e não em análises financeiras.
2ª) Defina Qual Será a Contribuição da Empresa Que está Realizando a Aquisição: 

Como não temos competência para administrar o nosso próprio negócio, é melhor procurar outro negócio sobre o qual sabemos menos ainda([3])

Essa citação referia-se a aquisições cujo objetivo era a diversificação que, segundo Drucker, fracassaria caso o objetivo fosse curar uma fraqueza por parte da empresa adquirente. A aquisição bem-sucedida se baseia na contribuição que a empresa que a realiza leva para o processo, e não o inverso. É preciso ser algo além do dinheiro, algo que confira ao negócio adquirido um novo potencial de desempenho. Essa contribuição precisa ser bem planejada com antecedência. E tem que se concretizar rapidamente.

3ª) Núcleo Comum de Utilidade:  Essa regra afirma que o sucesso da aquisição requer um núcleo comum de utilidade entre a empresa adquirente e a adquirida. É preciso que elas tenham algo comum, em uma área na qual ambas tenham competência – tecnologia, mercados, clientes, pesquisas e desenvolvimento. Para ele isso era importante para criar uma linguagem em comum, para que ambos se comuniquem e se entendam.

4ª) Respeite o Negócio, os Produtos, os Clientes e os Valores: A adquirente precisa respeitar o negócio da empresa adquirida, pois nenhuma aquisição funcionará se as pessoas da adquirente não acreditarem no negócio que estão adquirindo. Elas precisam acreditar que o negócio contribuirá para a empresa em geral e respeitar seus produtos, mercados e clientes.

5ª) O Papel da Alta Gerência: Drucker acreditava que a aquisição só tem chance de dar certo se a empresa adquirente estiver preparada para oferecer à adquirida uma nova equipe de alta gerência dentro de no máximo um (1) ano. Em muitas aquisições, a adquirente é atraída para a compra porque a adquirida  é muito bem gerenciada e, nesse caso, a adquirente acredita que essa gerência estará lá e continuará a administrar a empresa. Mas, logo descobre que esses profissionais acabam saindo da empresa – mesmo quando a recompensa oferecida a eles para permanecerem é vantajosa. Um dos motivos pelos quais isso acontece é que esses profissionais estavam acostumados a “mandar” e, na nova estrutura, ele se tornam apenas “gerentes de divisão”.

6ª) Promoções em Todas as Linhas: Drucker sugeriu que nos primeiros meses que se seguem à aquisição diversas pessoas dos dois lados deveriam ser promovidas a cargos melhores em todas as linhas da adquirida para a adquirente. O raciocínio dele é demonstrar que existem oportunidades de progresso, independentemente da empresa em que o funcionário está, e evitar a síndrome do “meus funcionários são mais inteligentes do que os seus”. Sem encarar a nova combinação de negócios como uma oportunidade, funcionários-chave logo sairão em debandada e serão, em geral, contratados pela concorrência.


([1]) SWAIM, Robert W. “Artigo escrito na Revista Business Beijing, como parte da série “Drucker Files”
([2]) DRUCKER, Peter. “The Frontiers of Management”. Nova York: Truman Talley Books, 1986, p. 257-260
([3]) DRUCKER, Peter. “Management: Task, Responsabilities, Pratices”. Nova York: Harper & Row, 1973, p. 708


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