Quais São as Nove Chaves Para o Sucesso de Aníbal,
Alexandre e César? Por Que os Três Grandes Generais da História São
Considerados Por Muitos Como Demônios?
A grandeza dos três grandes Generais – Aníbal,
César e Alexandre – inspira a todos os seus liderados, mas a sua letalidade é
aterradora. Na verdade, são três deuses da guerra, mas também são três demônios
e muitos os admiram pelas mesmas razões que os temem. Eles eram excelentes, mas
não eram bons; ou seja, o bom neles estava misturado com o mau. Então, o
que está ligado ao sucesso de um grande comandante? Suas virtudes ou seus
vícios?
Alexandre aparece na Bíblia como
uma cabra com chifres, vigoroso e impetuoso, mas muitos preferem pensar nele
como um cavalo – animado, rápido e capaz de carregar uma carga pesada. Aníbal
era um grande felino predador – astuto, ágil, ligeiro, furtivo e oportunista. César
era um lobo – rápido, implacável; ou seja, um caçador habilidoso e assassino.
Mas, a principal razão para o sucesso deles foi o
que tinham em comum, pois eles sabiam como jogar o jogo da guerra. Esses três
comandantes obtiveram um enorme êxito nas guerras que eles travaram, porque
possuíam nove (9) qualidades essenciais para esse sucesso:
1ª) Ambição: A expressão
que os gregos usam para definir a ambição humana significa “amor pela honra”.
Já a palavra que eles usam para definir impulso seria “hormônio” e,
uma terceira expressão grega não tem tradução para o português, mas precisa-se
dela para entender esses 3 grandes líderes. Significa “grandeza da alma”,
referindo-se a um impulso apaixonado para conseguir grandes feitos e ser
recompensado com suprema honra. Esse era o perfil da ambição desses três
grandes líderes. Eram homens com fome de honrarias e nada menos do que a
conquista de novos mundos poderia satisfazê-los. Seus objetivos eram elevados,
mas também egoístas e injustos.
Alexandre espalhou a democracia
e a civilização grega, mas atacou a Pérsia para conquistar um império e não
para acabar com alguma injustiça. Aníbal queria libertar seu
país do controle de Roma, mas rejeitou as negociações, pois queria rivalizar as
conquistas de Alexandre. César defendeu os interesses do povo,
mas queria muito ser o primeiro homem em Roma e não hesitou em destruir a
República. Eles tinham tanta necessidade de conquistas quanto os leões de
caçar.
2ª) Julgamento: Bom
julgamento, guiado por educação, intuição e experiência define o sucesso desses
três líderes e, no entanto, quando se trata de política César possui uma classe
especial, seguido por Alexandre e em terceiro lugar, Aníbal. Eles eram muito
inteligentes, mas cada um tinha algo mais: intuição estratégica e, quando
enfrentavam uma nova situação, cada um podia tirar experiências do passado e
surgir com a resposta certa. Sabiam como trabalhar sem a informação perfeita e
eram inabaláveis sob pressão. Eram capazes de pensar de forma criativa, rápida
e eficiente. Conseguiam ler os outros como um livro e conheciam a guerra, mas
também as pessoas.
Alexandre e Aníbal aprenderam com seus pais
guerreiros, Filipe II, o conquistador rei da Macedônia e Amílcar Barca, o
General cartaginense que lutou contra Roma até o fim. Já César, veio de uma
família aristocrática que o fazia praticar oratória e guerra. Quando cruzou o
Rubicão em 49 a. C. com 50 anos, tinha passado por uma das maiores escolas de
guerra: _ tinha conquistado a Gália (o equivalente hoje a França e a Bélgica).
Apesar de competentes como soldados cada um tinha um ponto cego, pois Alexandre
ignorava a Marinha, Aníbal os cercos e César pouco conhecia de Logística. Eram
habilidades importantes.
César era político e dominava o jogo do poder em
Roma. Antes de invadir a Pérsia, Alexandre enfrentou as traições da corte da
Macedônia, mas isso estava muito distante de governar um gigantesco império.
Quando atacou Roma, Aníbal não tinha colocado o pé em Cartago desde os 9 anos
e, sobre a política doméstica, ele sabia apenas o ABC.
3ª) Liderança: Eles
tinham almas de ferro, eram decididos, vigorosos e seguros. Tinham equipes que
podiam ser consultadas e que, frequentemente, prevaleciam sobre a opinião
deles. Cresceram dando ordens e os homens obedeciam, porque o comandante tinha
ganhado o seu respeito. Ou seja, tinham aprendido a confiar suas vidas a seu
líder. Somente Alexandre era Rei, mas Aníbal e César eram nobres e todos tinham
o toque comum, especialmente o político César.
Um Tenente de César resumiu o segredo do sucesso
dos grandes comandantes: _ “Não seguia a causa. Seguia o homem”.
Tinham qualidades pessoais especiais que inspiravam os outros em um nível
emocional. Mais do que oratória havia um gesto simples, mas eloquente. A visão
de Aníbal dormindo no chão com seus homens ou Alexandre no deserto, recusando
um capacete cheio de água enquanto seus homens estavam sedentos, ou César
dormindo no pórtico de uma cabana requisitada para que seu soldado doente
pudesse descansar – eram cenas que inspiravam mais a confiança dos soldados do
que centenas de discursos.
Não que os comandantes apostassem na amizade para
dirigir seus exércitos. Eles podiam colocar fogo em seus exércitos ou extinguir
a paixão deles. César parou um motim com uma única palavra: _ “cidadãos” e, ao
tratar seus homens como tal, ele os colocou de novo em seus lugares e lembrou o
quanto importava a aprovação do chefe. Eram mestres da recompensa e da punição.
Pagavam bem às suas tropas ou teriam de enfrentar motins. Tinham grande coração
e queriam que todos soubessem disso, pois mantinham uma parte relativamente
pequena do saque para si mesmos e repartiam o resto entre seus liderados.
E, quando se tratava de suas melhores tropas – os
macedônios de Alexandre ou os africanos de Aníbal – eles faziam o máximo para
ter um mínimo de baixas. Eles não deixavam dúvidas de que, se o pior
acontecesse, as viúvas e os órfãos receberiam grandes benefícios. Alimentavam o
medo, punindo qualquer um que os enfrentassem – soldados ou oficiais – e,
surras, execuções e até crucificações eram todas armas de suas lideranças.
4ª) Audácia: A honra estava
no coração do seu caráter e a coragem era o sangue vermelho das suas veias.
Mas, a virtude do guerreiro que melhor personifica Alexandre, Aníbal e César
era a audácia. Cada um deles estava escalando o Monte Everest e, o Rei da
Macedônia, por exemplo, não deveria conquistar o vasto Império Persa. O
Governador da Gália não deveria derrubar o Senado romano e seus exércitos.
E era inimaginável que o comandante cartaginense
espanhol devesse cruzar tantos rios quanto montanhas e invadir a Itália. Mas
eles ousaram fazer o que não poderia ser feito. Durante sua invasão ao Império
Persa, Alexandre sofreu 7 ferimentos e, pelo menos 3 deles, bastante sérios,
assim como uma doença da qual se recuperou. Era também eficiente, pois um
General que passava pelos mesmos riscos de seus homens ganhava o coração deles.
Eram ousados nas campanhas militares que criavam
e, apesar de a maioria dos Generais evitar riscos na maior parte do tempo, os
três adoravam se arriscar. Eles sempre tentavam aproveitar as oportunidades e
cada um deles apostou que poderia destruir o centro de gravidade do inimigo,
antes que pudesse destruir o seu. Os 3 também sabiam quando não ser audaciosos.
Alexandre, Aníbal e César chegaram ocasionalmente a correr riscos muito altos,
mas normalmente calculavam as suas chances. Poucos homens se recuperavam tão
rápido do fracasso quanto eles.
5ª) Agilidade: Como
soldados os três comandantes enfrentavam o que fosse. Eles gostavam de mudanças
no campo de batalha, e, quando se metiam com a política, enfrentavam desafios
ainda maiores. Quando as condições de combate mudavam, eles se organizavam.
Tendo conseguido brilhar na guerra convencional na Ásia, Alexandre mudou para a
tática de contra insurgência quando enfrentou uma guerrilha na Ásia central.
Aníbal mudava sem esforço entre campos de batalha e emboscadas. César se sentia
confortável no campo de batalha, mas se jogou na guerra urbana em Alexandria e
conseguiu uma importante vitória.
A velocidade era o lema deles e, a mobilidade,
uma marca registrada. A cavalaria pesada de Alexandre, os cavaleiros ligeiros
de Aníbal e a infantaria rápida de César eram os agentes do sucesso. Em suas
mãos, até elefantes poderiam se mover com graça, como quando os elefantes de
Aníbal foram colocados em jangadas para cruzar o rio Ródano. Viajavam com
poucas coisas, seus homens viviam da terra – os de Alexandre eram menos
precários do que os de Aníbal ou de César, já que os macedônios prestavam mais
atenção à Logística.
secretário de cada lado, anotando documentos
diferentes. Eram workaholics hercúleos que gerenciavam o tempo com
habilidade. Só as necessidades de dormir e fazer sexo, dizia Alexandre, o
faziam lembrar que era humano. Mas a agilidade tinha seus limites, pois
Alexandre quase foi derrotado pela frota persa. Aníbal pagou caro por sua
incapacidade de realizar cercos à Itália e, César, quase matou seu exército de
fome durante o cerco mal organizado de Dirráquio.
Mas, nem sempre guerreiros ágeis necessariamente
são bons políticos, pois guerra e clareza e política é frustração. Alexandre
conquistou o Império Persa com garra, mas perdeu o interesse na administração
de seus negócios. Aníbal descobriu que ganhar aliados na Itália era mais fácil
do que fazer com que obedecessem a sua vontade. César achava o campo de batalha
menos desafiador do que o Foro; sua queda não veio dos exércitos, mas das
adagas do Senado Romano.
6ª) Infraestrutura:
Ganhar uma guerra tem certas exigências, como armas e armaduras, comida, barcos
e – principalmente – muito dinheiro, pois com ele você poderá comprar o resto.
Você pode adquirir mão de obra disciplinada e veterana; ou seja, mercenários.
Mas, uma coisa que o dinheiro não compra é a sinergia. Não pode comprar uma
força armada combinada (infantaria leve e pesada, cavalaria junto com
engenheiro) que esteja treinada para lutar em conjunto como um grupo unida a
seu líder.
Na verdade, você precisará construir isso
sozinho, como os nossos três Generais fizeram. Cada um herdou um instrumento e
transformou em algo ainda mais mortal. Filipe II construiu o exército
macedônio, Alexandre acrescentou o toque de liderar a cavalaria na maior
batalha de Filipe. Depois da sua morte, Alexandre cavalgou à frente do exército
em seus anos de glória na Ásia. Aníbal herdou os homens que tinha construído o
novo Império cartaginense na Espanha por seu pai – Amílcar. César pegou legiões
e assumiu como próprias. Forjados na provação das guerras gálicas, eles eram o
melhor exército do mundo romano.
7ª) Estratégia: Em grego,
estratégia se refere a tudo relacionado com as tarefas de um General, de
táticas de batalha à arte das operações, até estratégia de guerra. Daí
acrescentamos a isso o que agora se chama de “grande estratégia” – o objetivo
político mais amplo que serve a uma guerra.
Os grandes comandantes devem dominar todos eles.
Alexandre, Aníbal e César tinham um domínio instintivo das operações e, no
entanto, o domínio de César sobre as táticas não se equiparava ao de Alexandre
ou Aníbal. Em particular, Aníbal era o mestre da surpresa, pois sua marcha
sobre os Alpes deixou o inimigo espantado. Ele criou círculos ao redor dos
romanos com truques desconhecidos e assim conseguiu abrir os portões da cidade,
lançar um ataque de cavalaria nas costas do inimigo e liberar seu exército
debaixo do nariz dos romanos.
Embora Alexandre e César não estivessem a altura
de Aníbal, eles tinham alguns truques na manga. Quando os persas bloquearam uma
passagem montanhosa no Irá, Alexandre conseguiu atravessar as colinas e
surpreendê-los por trás. Quando César enfrentou Pompeu ele escondeu suas melhores
tropas até o ataque da cavalaria inimiga, quando então, usou seus homens e
neutralizou o ataque.
Mas, quando falamos em estratégia de guerra,
Alexandre e César deixam Aníbal para trás, pois eles pensavam com antecipação.
Sabendo que não conseguiria vencer a Pérsia no mar, Alexandre preferiu
conquistar os portos persas no Mediterrâneo e adiou a batalha. Pensando
antecipadamente no confronto com Pompeu, César enviou a pilhagem conquistada na
Gália de volta para a casa, entregando-a aos pobres da Itália e comprando os
seus votos.
Já Aníbal era menos minucioso, ele adorava a
velocidade e a bruxaria, mas não tinha qualquer interesse em esmagar os aliados
de Roma. Apesar do seu sucesso, Aníbal fracassou no pensamento estratégico e,
embora seus triunfos no campo de batalha tenham sido impressionantes, ele não
conseguiu destruir Roma. Quando o inimigo se recuperou, ele não tinha um Plano
B. Todos os três comandantes tinham uma estratégia:
_ Alexandre queria conquistar o Império Persa; Aníbal queria destruir o poder
de Roma de uma vez e, César, queria conseguir a supremacia política.
8ª) Terror: Estavam
dispostos a matar inocentes e todos sabiam disso. Cena de uma guerra civil: _
quando um oficial tentou impedir que César entrasse no tesouro de Roma, este
levantou a voz e ameaçou matá-lo se não saísse do caminho: _ “Você precisa
saber que falar isso foi mais difícil para mim do que realmente fazer”. O jovem
oficial fugiu aterrorizado.
Mas ameaçar a vida de um funcionário não era nada
comparado a massacrar cidades inteiras, como fizeram os comandantes. César
saqueou a pequena cidade grega de Gomfoi como punição por traí-lo. Alexandre
destruiu a metrópole grega de Tebas, somente para mostrar o que ele fazia com
rebeldes. Pior ainda aconteceu mais tarde na Ásia Central, onde os furiosos
macedônios massacraram todas as cidades.
César fez o mesmo na Gália, onde matou 1 milhão
de pessoas e escravizou outro tanto, fazendo os italianos se renderem quando
ele cruzou o Rubicão. César fez uma jogada inteligente e perdoou seus inimigos,
o que ganhou o aplauso de um povo aliviado. A 1ª coisa que Aníbal fez quando
chegou à Itália foi massacrar o povo de Turim a fim de quebrar a resistência.
Quando ele deixou a Itália – 15 anos depois – massacrou aqueles italianos que
se recusaram a ir com ele.
9ª) Estilo: Homens com
ambições imperiais não vão à guerra por coisas pequenas, como a disputa de
fronteiras, por exemplo. Eles precisam de grandes causas e símbolos claros.
Nenhum dos três era homem do povo, mas todos eram populistas. Alexandre começou
como vingador e terminou como semideus. Ele prometeu vingança pela invasão da
Grécia pela Pérsia, proclamou a libertação das cidades que conquistou e
transformou-as em democracias. Quando chegou ao Irã, vestiu o guarda-roupa
persa, obrigou seus homens a saudarem ao estilo local e, enquanto isso, mandou
que seus aliados gregos o venerassem como filho de Deus Zeus.
Aníbal também lutou por vingança e libertação. A
Cartago ele prometeu vingança por sua derrota anterior para Roma; aos
italianos, ele prometeu liberdade do domínio romano. Encorajou seus seguidores
celtas a considera-lo um herói saído de seus mitos.
César passou dificuldades para mostra que não era
um mero Governador que havia se revoltado contra o governo de Roma, pois ele
dizia que estava lutando pelos direitos do povo. Ele também marcou uma
diferença evidente entre ele mesmo e os Generais anteriores que marcharam sobre
Roma, pois eles tinham selado sua guerra com reinos de terror, mas a política
dele era de misericórdia.
Em relação aos deuses, a família de César traçava
sua ancestralidade até Vênus. Ele recebeu honrarias divinas do Senado enquanto
ainda estava vivo e foi divinizado depois da sua morte. Mas, César adquiriu
algo que era ainda mais valioso: _ celebridade. Quando cruzou o Rubicão, a
reputação dele serviu como um multiplicador de força.
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