Qual a Influência
da Sociedade Empresarial na Ciência da Administração? E o Papel Exercido Por
Adam Smith, Keynes e Taylor? Qual Foi a Importância do Sistema Feudal e da
Igreja Católica Nesse Contexto?
Desde cedo, a sociedade ocidental se caracterizou como uma
“sociedade
empresarial”, em que a ideologia da grande corporação fixa o tema para
o sistema total, a tal ponto que as opiniões de empresários têm forte
influência em determinados países.
A ideologia capitalista não constitui a norma do padrão
ético da história do Ocidente e, ao contrário, a maior parte da história
registrada considerou inaceitável essa ideologia. E, de forma geral, os
filósofos gregos julgavam as atividades comerciais com desdém, considerando-as
até mesmo necessárias, mas pouco agradáveis. Opinião idêntica à dos romanos.
A Idade Média se caracterizou como um período de
estagnação e ausência de desenvolvimento econômico e social, principalmente em
função do sistema feudal e da Igreja Católica. O primeiro, dominou a vida
econômica da Europa Ocidental e a Igreja Católica, ao fornecer a ideologia e
fixar o sistema de valores, imputou a “salvação das almas” às pessoas.
A usura era considerada pecado e o comércio era de
duvidosa pureza. Deve-se salientar que o “credo” capitalista não surgiu de
repente e maduro, mas resultou de um processo revolucionário, com a Igreja
encarando os assuntos de negócios sob novos ângulos. Por outro lado, as
populações passavam por processos de urbanização, a criação de novas
comunidades e até mesmo nações, estimulando a intensificação do comércio e dos
negócios. Outro vigoroso estímulo foi o crescente comércio marítimo entre a
Inglaterra, a França, a Holanda, Portugal e Espanha.
Alguns historiadores consideram o judaísmo como outro
estímulo, uma vez que a religião judaica não restringiu o comércio como fizera
o Cristianismo nos anos anteriores. Aos judeus que viviam na Europa, eram
proibidos de possuírem terras e outras atividades, forçando-os aos negócios e
ao comércio como alternativas.
Autores como Max Weber destacaram as mudanças na ética
religiosa - como resultado da Reforma e o movimento protestante – como
geradoras de um clima favorável ao progresso do capitalismo, salientando que o
crescente protestantismo na Inglaterra, na Escócia, na Holanda e na Nova
Inglaterra, constituiu-se na principal razão para esses países serem os
primeiros a se lançarem ao desenvolvimento industrial.
A ética capitalista recebeu sua suprema teoria em 1776 com
Adam Smith, o qual pregava a liberdade econômica com base na premissa que
“promovendo seus interesses pessoais, cada indivíduo beneficiaria a sociedade
total”. O mecanismo de controle era a concorrência do mercado, não precisando
do controle do estado nem de outro controle externo qualquer. Essa ideologia se
ajustava maravilhosamente bem aos desenvolvimentos tecnológicos e industriais à
época, e propiciava justificativa perfeita para o crescimento industrialista.
Em 1858, Charles Darwin publicou sua teoria da evolução,
salientando que os organismos se adaptavam com êxito ao meio ambiente,
enfrentando um processo contínuo de lutas.
O “darwismo social” dava a entender que as pessoas mais capazes e com
mais recursos, ascenderiam à cúpula da hierarquia social e que essa era a ordem
natural das coisas.
A ética protestante – em evolução -, o modelo competitivo
de Adam Smith e o darwismo social forneceram o suporte ideológico do
capitalismo industrial. E, esse período – entre o fim da Guerra de Secessão até
1890 – pode ser considerado o ápice da evolução ética capitalista tradicional.
Os industrialistas eram os heróis populares daqueles dias e suas atividades
recebiam substancial apoio popular.
Nessa época, as atividades governamentais favoreciam o
desenvolvimento da indústria e do comércio, tendo sido aprovado uma legislação
tributária que protegia os interesses da indústria. Como foi considerada
“legal”, a corporação abriu as portas ao aparecimento de gigantescas empresas.
O aparecimento dessas gigantescas empresas levou várias forças
internas da sociedade a reclamar alguma forma de regulamento ou controle, pois
a desenfreada aplicação do modelo competitivo de Adam Smith não mostrava
eficiência em sistema de oligopólio e monopólio.
Em 1890, foi aprovado decreto de regulamentação das
empresas em função do interesse público, cuja finalidade principal foi
restringir as práticas monopolistas e fazer o sistema empresarial voltar atrás,
às práticas do modelo competitivo. Dessa forma, durante esse período, foi
construída a estrutura básica para o governo regulamentar certos aspectos das
atividades comerciais.
Durante as primeiras fases da Revolução Industrial,
inúmeras restrições legais foram impostas à ação coletiva dos trabalhadores e
os tribunais achavam que os sindicatos conspiravam, visando à restrição do
comércio. Mas, após a Guerra de Secessão, com o crescimento das complexas
organizações industriais, o movimento trabalhista recebeu um novo ímpeto. Entre
1895 e 1920 surgiram organizações trabalhistas radicais que reuniam trabalhadores
da indústria em organizações militantes, visando à derrubada do sistema
capitalista e, embora tenham saído de cena após a 1ª Guerra, representou
violenta reação contra o darwismo industrial predominante n’aquele período.
A Grande Depressão – iniciada com o desmoronamento do
mercado em 1929 – ameaçou a estrutura do nosso sistema econômico e social, com
o desemprego sacudindo as raízes da ideologia capitalista clássica e o bode
expiatório foi a empresa. A depressão se estendeu com ligeiras modificações de
1929 até que o estímulo da 2ª Guerra à atividade industrial, introduzisse uma
meia volta.
Embora a própria Depressão constituísse a prova da
falência do sistema econômico e da ética capitalista clássica, coube ao
economista John Keynes (1936) apresentar a explicação teórica para o fato. A
posição dele desafiou a teoria econômica clássica e a ética capitalista. Keynes
desafiou o princípio básico protestante, afirmando que as poupanças retiradas
do consumo poderiam levar a um deslocamento e a uma sub utilização dos recursos
econômicos. Ele explicou a Depressão, sugerindo que se podia alcançar o
equilíbrio à despeito do grande número de pessoas desempregadas e de outros
recursos não utilizados.
Keynes deu mais ênfase ao consumo que às poupanças como
modo de chegar à utilização plena dos recursos e, sem um sistema auto ajustável
que operasse em favor do pleno emprego, essa tese necessitaria de uma força
externa que fornecesse o mecanismo de equilíbrio - e essa força era o governo.
A teoria keynesiana exerceu forte influência sobre a transformação da ética
capitalista.
No princípio da Administração Científica, Taylor e seus
adeptos encaravam a organização sob o ponto de vista mecanicista, vendo no
trabalhador um elemento do sistema, racional e maximizador de lucros. Mas, o
movimento das relações humanas – iniciado por Elton Mayo – fez surgir uma visão
diferente do empregado, pois ele via a organização como um sistema social, com
seus membros influenciados por relações intergrupos e o indivíduo motivado pela
complexa hierarquia das necessidades.
Embora reconhecesse a importância das necessidades
econômicas, Mayo deu mais ênfase às necessidades sociais, de status e outras,
como sendo básicas para a motivação dos participantes da organização.
A teoria das ciências behavioristas – psicologia,
sociologia e antropologia – exerceu profunda influência sobre o modo básico de
ver o homem dentro da organização e da sociedade, tendo exercido papel
importante na transformação da ética capitalista e da ideologia da administração.
A 2ª Guerra Mundial exigiu intervenção do governo federal
em todas as fases da atividade econômica, à fim de acumular e dirigir recursos
necessários ao esforço de guerra, sendo o governo americano o responsável pela
manutenção do pleno emprego e da plena utilização dos recursos econômicos. Nos
últimos 20 anos, cerca de 10% do PNB dos EUA foram destinados à defesa, aos
programas de energia atômica e a NASA. Dessa forma, os empresários estão cada
vez mais trabalhando com ou através de repartições governamentais e esse
processo tem influenciado a ideologia da administração.
A necessidade de “fazer frente” à mudança tecnológica
dentro da organização complexa influenciou a ideologia empresarial das décadas
de 50 e 60, visto que houve enormes influências de concepções e métodos de
administração com a contratação de cientistas, profissionais especializados e
outros especialistas, altamente treinados. Além disso, importantes mudanças
sociais ocorridas fora do sistema empresarial também causam impacto sobre a
ideologia – como movimento pelos direitos civis, a militância universitária,
etc. -, forçando os executivos a reconsiderarem seus próprios valores.
É impossível apresentar uma única ideologia empresarial
dominante nos nossos tempos, já que vivemos em uma sociedade de pluralismo
ético e o dirigente se vê diante de milhares de valores conflitantes. Mas, o
conflito principal parece ser entre a ética calvinista – protestante – e a
ética judaico-cristã.
A ética calvinista sustenta a ideologia do “laissez-faire”
e do lucro máximo, dando ênfase à produção e pondo a organização como criadora
de bens e serviços. E, por outro lado, a ética judaico-cristã sustenta que a
empresa tem uma responsabilidade social mais ampla e não deve se preocupar
unicamente com o lucro máximo.
Uma perspectiva mais recente é a de considerar que a
organização não funciona somente como maximizadora de lucro, tendo à frente uma
série de grupos de interesse, tais como seus clientes, seus fornecedores, seus
acionistas, empregados, sindicatos, etc... . O dirigente precisa satisfazer os
interesses desses vários grupos, à fim de manter a colaboração e a participação
dos mesmos nas atividades da organização. Acima de tudo, o sistema de valores
do capitalismo contemporâneo é pragmático e cada vez mais o empresário está
reconhecendo que não opera só em um determinado ambiente econômico, mas em um
ambiente social total, não devendo se desestimular nem pelos dilemas
ideológicos nem pelas variadas exigências dos diferentes grupos.
No decorrer dos últimos 130 anos a corporação se tornou
não somente a nossa mais importante instituição, mas também uma importante
força a favorecer as alterações sociais. A corporação se tornou o instrumento
predominante para a transformação da ciência e da tecnologia em bens e serviços
economicamente úteis. E, no desenvolvimento desse papel econômico, a corporação
deu origem a enormes alterações sociais.
O desenvolvimento do automóvel, da televisão e outros
artigos de largo consumo exerceram grande influência, afetando quase todas as
áreas da sociedade americana e, no setor de produção, o crescimento da
automação e da tecnologia de informação exercerá profunda influência, tanto
sobre grupos de trabalho como sobre executivos, bem como sobre o resto da
sociedade.
A posição adotada hoje por muitos dirigentes apresenta uma
mudança radical em relação à 30 décadas, a qual sustentava que qualquer forma
de ação do governo para enfrentar os problemas sociais resultantes das
deslocações econômicas, não era apenas desnecessárias, mas antissocial. O
dirigente empresarial reconhece hoje, que sua organização é uma subunidade da
sociedade mais ampla e que precisa se adaptar às exigências do ambiente em que
opera.
Existe uma estreita relação entre a questão da
responsabilidade social da empresa e o conceito de profissionalismo
especializado, sendo impossível concordar a respeito do que seja um
“profissional especializado”. Vollmer e Mills dão conta que “a
profissionalização é um processo que pode exercer influência sobre qualquer
ocupação, em grau mais alto ou mais baixo”. Muitos autores modernos apresentam
os elementos essenciais de uma profissão ideal:
q
As profissões têm um campo sistemático de
teoria. Chega-se à aptidão através do treinamento. A preparação para a
profissão deve ser uma experiência tanto intelectual como prática.
q
O profissional reveste-se de uma autoridade
baseada em conhecimento superior, que é reconhecido pelos clientes. Essa
autoridade é altamente especializada e se relaciona apenas com a esfera de
competência profissional.
q
A comunidade sanciona o exercício dessa
autoridade dentro de determinadas esferas, conferindo aos profissionais certos
poderes e prerrogativas, cujos exemplos são o controle sobre o ingresso na
profissão, os processos para o licenciamento e a confidencialidade entre o
profissional e o cliente.
q
Existe um código de ética que regula as relações
entre as pessoas que exercem a profissão, os clientes e os colegas e, dessa
forma, a autodisciplina é empregada como base do controle social.
q
O profissional faz parte de numerosos grupos –
formais e não-formais. As ações mútuas entre os papéis sociais, requeridas por
esses grupos, geram uma configuração social única da profissão, uma cultura
profissional.
A administração não desenvolveu esses cinco elementos na
mesma extensão dos grupos profissionais tradicionais, mas, se examinarmos o
conceito de profissionalismo, torna-se evidente que em décadas passadas
transpareceu certa tendência para uma atenção maior a esses elementos do
profissionalismo. Autores modernos têm observado um movimento contínuo rumo ao
profissionalismo da administração, ao admitirem que:
q
Existe um acampo – cada vez maior – de conhecimento
sistemático, referente à gerência e à administração de organizações complexas.
q
Legitimou-se em nossa cultura o papel
autoritário do gerente.
q
Esse papel conta com a sanção da comunidade.
q
Há um número – cada vez maior – de associações
profissionais de gerentes ou administradores (particularmente nos vários
aspectos especializados das empresas).
Marcantes transformações têm sofrido a ideologia
capitalista e as opiniões da sociedade com respeito ao legítimo papel do
executivo – e da corporação. É importante reconhecer que a Teoria da
Organização e a prática da Administração foram influenciadas pelo ambiente
sociocultural (em processo de transformação) e pela ideologia (em processo de
evolução).
Embora Frederick W. Taylor não possa ser considerado como
força isolada, ele deve ser encarado à luz da situação industrial e social em
que desabrochou. Dessa forma, Elton Mayo e os estudiosos das Relações Humanas
espelham a substancial evolução ocorrida na ideologia da Administração nesses
últimos 130 anos.
www.profigestaoblog.wordpress.com
www.facebook.com/profigestao
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